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Bolsa Família em alta
Aumento concreto de gasto social contrasta com aspectos frágeis do corte anunciado por Dilma Rousseff nas despesas federais
O governo Dilma Rousseff desferiu um golpe débil no cravo da
austeridade fiscal, com o questionado corte de R$ 50 bilhões nos
gastos federais, e pelo menos uma
pancada sonora na ferradura das
despesas sociais, com o aumento
concedido aos benefícios do Bolsa
Família. O programa passa de R$
13,4 bilhões, em 2010, para um total de R$ 16 bilhões neste ano.
Com relação ao valor orçado antes do aumento, o acréscimo é de
R$ 2,1 bilhões (projetavam-se R$
13,9 bilhões em 2011).
Quase metade disso sairá de
uma reserva de R$ 1 bilhão, já prevista no Orçamento para ampliar
o programa. Resta R$ 1,1 bilhão de
despesa extra, que o Planalto pretende obter com remanejamento
de verbas do Ministério do Desenvolvimento Social e com créditos
suplementares.
O reajuste médio dos pagamentos, sem aumento desde 2009, foi
de 19,4%. O benefício recebido
por famílias com renda per capita
de até R$ 140 mensais, R$ 22 por filho até 15 anos (máximo de três
descendentes), sofreu o maior reajuste (45,5%) e foi a R$ 32. Com
mais dois filhos de 15 a 17 anos e se
a renda familiar per capita não exceder R$ 70 ("extremamente pobre"), uma família pode chegar a
um auxílio mensal de R$ 242.
O primeiro reparo a fazer diz
respeito ao contraste entre as dúvidas deixadas pelo anúncio dos
cortes e a certeza irrecorrível do
gasto gerado pelo reajuste dos benefícios. Da fatia de R$ 50 bilhões
ceifada do Orçamento, pelo menos R$ 12,2 bilhões são reestimativas de despesas que o governo
tem esperança de diminuir, por isso mesmo de baixa probabilidade.
O aumento do Bolsa Família,
porém, cria desembolsos imediatos, com efeitos tanto em 2011
quanto nos anos por vir. Nenhum
governante, em sã consciência
eleitoral, se arriscará a retroceder
num programa com tantos e óbvios dividendos nas urnas. A própria presidente foi grande beneficiária da prodigalidade do antecessor e mentor em matéria de
programas assistencialistas.
Não é o caso de negar os méritos
do Bolsa Família, que tem contribuído para alçar milhões de brasileiros acima do limiar da miséria.
No ano passado, 12,9 milhões de
famílias foram agraciadas. O que
se questiona é a capacidade de fazê-lo de maneira sustentável, fornecendo-lhes alternativas de emprego e renda que lhes permitam
deixar de depender do auxílio.
Causa preocupação, a respeito,
que o programa Promoção da Inclusão Produtiva -principal "porta de saída" do Bolsa Família- seja contemplado em 2011 com R$
37,3 milhões, contra R$ 68,8 milhões no ano passado (dos quais
34% foram de fato despendidos).
Dilma repete a receita consagrada por Lula: pisa com força no acelerador do gasto social e com timidez no freio do equilíbrio fiscal.
Não é a melhor maneira de fazer a
economia deslanchar.
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