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CLÓVIS ROSSI
O espetáculo e o vira-lata
SÃO PAULO - Os cinco e pouco
por cento de crescimento do ano
passado foram um "espetáculo", a
julgar pela euforia incontida em
quase todos os quarteirões da pátria.
Não é que, há 30 anos, esse mesmo nível de crescimento era tido
pela Fundação Getulio Vargas como "recessão de crescimento"?
Quem lembra é João Paulo dos
Reis Velloso, ministro do Planejamento entre 1969 e 79, criador do
Fórum Nacional, uma associação
de cerca de cem economistas, sociólogos e cientistas políticos cuja
finalidade é oferecer propostas ao
país. A lembrança de Velloso aparece no número de março de "Desafios do Desenvolvimento", a revista
editada pelo Instituto de Pesquisas
Econômicas Aplicadas.
Diz o ex-ministro: "Perdemos o
know-how de crescer rapidamente.
Hoje, 5% é razoável, mas em 1977
ou 1978, quando tivemos que desacelerar a economia por causa da crise do petróleo, o crescimento estava em 5%, por coincidência, e a FGV
falou (que) o Brasil está em recessão de crescimento".
O Brasil parece tomado por uma
espécie de "complexo de vira-lata",
expressão de Nelson Rodrigues de
que tanto gosta o economista Paulo
Nogueira Batista Jr.
Conforma-se com pouco e, pior,
tem medo de ser mais feliz. Basta
lembrar que, depois de 25 anos de
crescimento medíocre e imediatamente após os 5,4% do ano passado,
todo mundo prevê crescimento inferior neste ano (menos o presidente Lula, ressalve-se), como se fosse
normal um teto que em tempo não
tão remoto assim era apenas "recessão do crescimento".
O "vira-lata", aliás, abana o rabo
com a miçanga do "investment grade", quando até o Financial Times
pergunta e responde: "A classificação da Standard & Poor's deveria
ser tão importante? A resposta é
não. Como aprendemos com a crise
de crédito, é perigoso que tantos
dêem tanto peso à avaliação de uma
agência de classificação".
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