São Paulo, segunda-feira, 04 de maio de 2009

Próximo Texto | Índice

Editoriais

editoriais@uol.com.br

Cem dias na crise

Expectativas e gestão pragmática contribuíram para a aprovação inicial de Obama, apesar da recessão persistente

EM SEUS primeiros cem dias, a gestão Barack Obama foi aprovada por 68% dos cidadãos americanos. Sinal de que o presidente tem conseguido manter a popularidade, apesar dos sinais persistentes de recessão.
Nos foros econômicos internacionais, Obama tenta renovar a liderança dos EUA por meio de atuações pragmáticas, como no G20. Na frente interna, negociou com o Congresso novos planos de resgate às instituições financeiras e às grandes corporações e preparou um orçamento ambicioso para 2010, que inclui uma reforma de impostos que amplia a carga sobre os mais ricos.
Mas a crise bancária e a recessão, a despeito dos esforços, persistiram. No primeiro trimestre de 2009, a economia americana registrou uma retração de 6,1% (taxa anualizada) -valor próximo da contração de 6,3% apurada no quarto trimestre de 2008.
O investimento das empresas apresentou declínio recorde de 37,9% no primeiro trimestre. O comércio exterior não ficou atrás. As exportações americanas recuaram 30%, a maior marcha a ré desde 1969. As importações caíram ainda mais (34,1%) e derrubaram a atividade econômica em escala planetária.
Surpresa positiva, no entanto, o consumo das famílias cresceu 2,2%. Essa informação foi reforçada pela melhora na confiança do consumidor em abril -que cresceu para o nível mais alto desde novembro. Amplia-se, assim, a possibilidade de um aumento sustentado nos gastos do consumidor -um dado importante, já que tais despesas são 70% do PIB americano.
Diante de um cenário recessivo, o Fed (BC americano) manteve a taxa de juros básica dentro do intervalo entre 0 e 0,25% ao ano. Além da política de juro zero, manteve os compromissos de compra e garantia de títulos e hipotecas, para estimular o crédito e o mercado imobiliário.
Mas os "ativos tóxicos" no sistema bancário, estimados pelo FMI em US$ 2,7 trilhões (mais de duas vezes o PIB do Brasil), ainda dificultam a retomada dos empréstimos para empresas e consumidores.
Para o Fed, que aplicou auditorias a fim de testar a solvência de 19 grandes bancos -cálculos de impacto nas carteiras de crédito das instituições, levando em conta diferentes cenários-, a maioria possui recursos acima do nível exigido para ser considerada "bem capitalizada". No entanto, julgou "prudente" que aumentassem o patrimônio a fim de absorver possíveis perdas.
Começam a surgir sinais menos pessimistas sobre o sistema financeiro. As taxas de juros cobradas entre os bancos caíram bastante desde o começo de abril, e há indícios de que esse gênero de empréstimos começa a ser retomado. Sem o desbloqueio do canal interbancário, o crédito na sociedade americana continuará deprimido.
A melhoria na confiança reduziu a aversão ao risco. Em consequência, as Bolsas esboçaram uma recuperação, e a cotação mundial de algumas moedas de países emergentes se estabilizou.
Será necessário, entretanto, esperar ao menos outros cem dias antes de declarar encerrado o pior momento desta crise.


Próximo Texto: Editoriais: Fura-Fila repaginado

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.