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Cem dias na crise
Expectativas e gestão pragmática contribuíram para a aprovação inicial de Obama, apesar da recessão persistente
EM SEUS primeiros cem
dias, a gestão Barack
Obama foi aprovada por
68% dos cidadãos americanos. Sinal de que o presidente
tem conseguido manter a popularidade, apesar dos sinais persistentes de recessão.
Nos foros econômicos internacionais, Obama tenta renovar a
liderança dos EUA por meio de
atuações pragmáticas, como no
G20. Na frente interna, negociou
com o Congresso novos planos
de resgate às instituições financeiras e às grandes corporações e
preparou um orçamento ambicioso para 2010, que inclui uma
reforma de impostos que amplia
a carga sobre os mais ricos.
Mas a crise bancária e a recessão, a despeito dos esforços, persistiram. No primeiro trimestre
de 2009, a economia americana
registrou uma retração de 6,1%
(taxa anualizada) -valor próximo da contração de 6,3% apurada no quarto trimestre de 2008.
O investimento das empresas
apresentou declínio recorde de
37,9% no primeiro trimestre. O
comércio exterior não ficou
atrás. As exportações americanas recuaram 30%, a maior marcha a ré desde 1969. As importações caíram ainda mais (34,1%) e
derrubaram a atividade econômica em escala planetária.
Surpresa positiva, no entanto,
o consumo das famílias cresceu
2,2%. Essa informação foi reforçada pela melhora na confiança
do consumidor em abril -que
cresceu para o nível mais alto
desde novembro. Amplia-se, assim, a possibilidade de um aumento sustentado nos gastos do
consumidor -um dado importante, já que tais despesas são
70% do PIB americano.
Diante de um cenário recessivo, o Fed (BC americano) manteve a taxa de juros básica dentro
do intervalo entre 0 e 0,25% ao
ano. Além da política de juro zero, manteve os compromissos de
compra e garantia de títulos e hipotecas, para estimular o crédito
e o mercado imobiliário.
Mas os "ativos tóxicos" no sistema bancário, estimados pelo
FMI em US$ 2,7 trilhões (mais
de duas vezes o PIB do Brasil),
ainda dificultam a retomada dos
empréstimos para empresas e
consumidores.
Para o Fed, que aplicou auditorias a fim de testar a solvência de
19 grandes bancos -cálculos de
impacto nas carteiras de crédito
das instituições, levando em
conta diferentes cenários-, a
maioria possui recursos acima
do nível exigido para ser considerada "bem capitalizada". No entanto, julgou "prudente" que aumentassem o patrimônio a fim
de absorver possíveis perdas.
Começam a surgir sinais menos pessimistas sobre o sistema
financeiro. As taxas de juros cobradas entre os bancos caíram
bastante desde o começo de
abril, e há indícios de que esse gênero de empréstimos começa a
ser retomado. Sem o desbloqueio do canal interbancário, o
crédito na sociedade americana
continuará deprimido.
A melhoria na confiança reduziu a aversão ao risco. Em consequência, as Bolsas esboçaram
uma recuperação, e a cotação
mundial de algumas moedas de
países emergentes se estabilizou.
Será necessário, entretanto,
esperar ao menos outros cem
dias antes de declarar encerrado
o pior momento desta crise.
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