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MARINA SILVA
Ser progressista hoje
ENQUANTO SETORES do Congresso, do empresariado e dos
governos federal, estaduais e
municipais ainda abusam do velho
discurso de que proteção ao meio
ambiente atrapalha a economia
-mote para atacar partes importantes da legislação ambiental-,
pesquisa do Datafolha (Brasil,
29/4) para a ONG Amigos da Terra
mostrou a enorme distância entre
essa posição e o que pensa a maioria dos brasileiros.
O basta ao desmatamento é consenso nacional: 94% dos entrevistados escolheram a opção "parar o
desmatamento, para evitar os custos de desastres ambientais como
mudanças climáticas, desmoronamentos, alagamentos etc.", contra
3% que escolheram "permitir mais
desmatamento, para produzir
mais produtos agrícolas". Outras
respostas reafirmam, de vários ângulos, o mesmo ponto de vista. Assim, 85% desejam que os custos gerados pelos danos ambientais no
campo sejam cobrados de quem
desmatou, mesmo que resulte em
aumento de custo dos alimentos;
91% querem "leis mais rigorosas,
para dificultar o desmatamento";
e, para 61%, a maior responsabilidade cabe à "falta de controle por
parte das instituições de governo,
que não aplicam a lei". Nas próximas eleições, 93% pretendem dar
preferência a candidatos que ajam
contra o desmatamento.
A pesquisa aponta, simbolizado
no desmatamento, sentimento generalizado na sociedade de que algo muito grave está acontecendo,
provocado pelo comprometimento dos recursos naturais. No início
do século 20, Osvaldo Cruz enfrentou a Revolta da Vacina porque teve a visão da urgência para evitar
uma epidemia incontrolável de
peste bubônica, mesmo diante da
reação de parte da população.
Hoje, governantes recebem de
bandeja a licença -e, mais do que
isso, a demanda enfática- da sociedade para agir na direção do
avanço, e não do retrocesso, como
quer quem tenta esvaziar a legislação ambiental. O que falta para fazer o papel histórico de agente indutor da troca de sinal civilizatório?
Se aqueles cujas responsabilidades objetivas vão além dos deveres
dos cidadãos em geral não assumirem práticas e horizontes sustentáveis, a extraordinária energia
que vem da sociedade pode se
transformar em consenso oco,
mais próximo da retórica que da
mudança.
A sustentabilidade política para
agir aí está. Não lhe dar consequência talvez seja falta de coragem, ou de autoestima, ou, pior,
puro reacionarismo, conceito antigo de grande utilidade em nossos
dias. Ser progressista agora é buscar novo modelo de vida e, embora
pareça tautológico, nova visão de
progresso. A pesquisa pode ser lida em www.amazonia.org.br.
contatomarinasilva@uol.com.br
MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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