São Paulo, quarta-feira, 04 de maio de 2011

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

De Obama a Bush

SÃO PAULO - Façamos um exercício: qual seria a reação caso fosse George W. Bush, e não Barack Obama, quem tivesse autorizado a operação que matou Osama bin Laden? É provável que dentro dos EUA a aprovação festiva à "vingança" fosse a mesma, mas a condescendência da opinião pública internacional seria certamente menor.
Os americanos invadiram a casa do terrorista em outro país, executaram-no e depois atiraram o corpo no mar. Simples assim. Talvez só contra Bin Laden esse roteiro, obviamente premeditado, fosse possível. Seria, de fato, arriscado e politicamente complicado submetê-lo a um julgamento internacional. Mas contra quem mais o teatro da legalidade poderia ser suprimido?
É muito irônico que Obama saia das cordas e respire mais aliviado de olho em 2012 pendurado na agenda de Bush da "guerra ao terror". A despeito das diferenças brutais entre o democrata de Harvard e o vaqueiro republicano, a mise-en-scène de Obama no seu "Dia D" foi típica da era Bush. Basta citar a divulgação das suas imagens na Sala de Controle da Casa Branca, cercado de assessores, acompanhando on-line a operação no Paquistão.
Ao inflamar o patriotismo e tocar o coração conservador da América, beneficiando-se disso, Obama paradoxalmente reabilita parte do legado histórico do bushismo. Não a letra da "doutrina", mas o espírito da guerra contra o inimigo externo. Agora "o show tem que continuar".
Há uma segunda ironia. Síria e Líbia faziam parte do que Bush decidiu batizar de "Eixo do Mal". São regimes que hoje estão caindo de podre. Não, como pregavam os falcões, por uma ação imposta de fora para dentro, mas de forma endógena, pela revolta das ruas.
Seria uma reabilitação de Bush? Não exatamente, quando se pensa nos crimes de Guantánamo ou no desastre no Iraque. Mas é fato que seu governo identificou em Muammar Gaddafi e Bashar Assad dois tiranos sanguinários que contavam com dose excessiva de tolerância.


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