|
Próximo Texto | Índice
Não ao faroeste
A regulamentação das atividades mineradoras em áreas indígenas traz benefícios para todos os agentes envolvidos
FINALMENTE , o governo
prepara projeto de lei para regulamentar a exploração de terras indígenas
por empresas mineradoras, como previsto na Constituição (artigo 231). A proposta será discutida nas próximas semanas pela
Comissão Nacional de Política
Indigenista, formada por representantes do governo e por lideranças indígenas, e depois com
as companhias mineradoras, antes de ser enviada ao Congresso.
Pela legislação atual, as empresas podem explorar apenas terras adjacentes às reservas indígenas. A concessão das áreas indígenas às empresas ocorrerá
mediante licitações. Cada licitação terá de ser aprovada pelo
Parlamento e as comunidades
afetadas serão consultadas, embora sem poder de veto.
Corretamente, a exploração
prevê o pagamento de royalties
de no mínimo 3% do faturamento bruto dos empreendimentos.
O valor arrecadado será destinado para as comunidades próximas às minas e para um Fundo
de Compartilhamento de Receitas sobre a Mineração em Terras
Indígenas, gerido pela Funai.
As regras sobre a exploração de
riquezas em terras indígenas visam disciplinar as atividades já
realizadas de forma desordenada
por garimpeiros. Segundo o Serviço Geológico do Brasil, existem
192 garimpos ilegais em terras
indígenas, um verdadeiro faroeste, que gera violência social e
provoca danos ao ambiente.
As mineradoras poderão ampliar a capacidade de produção,
num momento de expansão da
demanda global. Estudo do Instituto Socioambiental (ISA) indica que há 4.821 processos de
requerimento de pesquisa e lavra na região amazônica, com
potencial para extração de minério de ferro, ouro, cobre, diamante, bauxita e cassiterita. Os pedidos incidem sobre 123 terras indígenas. A definição de regras
para a mineração nessas áreas,
eliminando o garimpo clandestino, resultará num aumento dos
investimentos das empresas,
bem como da arrecadação tributária proveniente de atividades
ligadas aos recursos naturais.
Os valores obtidos podem melhorar as precárias condições de
vida das populações indígenas,
dada a falta de assistência estatal. Em 2000, a taxa de mortalidade infantil entre os índios era
de 51,4 por mil nascidos vivos,
bastante superior aos 30,1 por
mil que representava a média da
população. A exploração ilegal
das riquezas minerais nas terras
indígenas tem deteriorado esse
quadro: os garimpos aumentam
a incidência das doenças, da
prostituição e do alcoolismo.
Mesmo que alguns pontos no
projeto possam ser melhorados,
parece claro que a regulamentação trará ganhos para todos os
agentes -empresas, governo e
comunidades indígenas. Talvez
normas mais estritas para garantir a conservação do habitat das
comunidades, a minoração do
impacto ambiental e possível recuperação das áreas possam ser
introduzidas. O país caminha,
assim, para implementar um estatuto jurídico que já vigora em
países como a África do Sul, Austrália, Canadá e EUA. Lamenta-se apenas que tenha demorado
tanto para enfrentar a questão.
Próximo Texto: Editoriais: Nova paisagem Índice
|