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FERNANDO DE BARROS E SILVA
O emplastro e o aloprado
SÃO PAULO - O "affaire" Mangabeira Unger nasceu como piada
pronta e desandou para o pastelão.
Há pouco mais de 40 dias, Lula convidou o filósofo, afamado professor
de direito de Harvard, para ocupar a
Secretaria Especial para Ações de
Longo Prazo -a sugestiva Sealopra.
Já perto da posse (prevista para o
dia 13), Lula tratou de vazar para a
imprensa que não quer mais saber
de Mangabeira -espera simplesmente que ele desista do cargo. Assim, a pasta dedicada ao "longo prazo" surgiu do nada e foi fulminada
em pouco mais de um mês, antes
mesmo de funcionar. Ainda que
vingue, está de saída condenada.
Rarará! -este é o país de Zé Simão.
Mas sob o enredo cômico há jogo
pesado. Mangabeira decidiu entrar
na Justiça dos EUA para cobrar honorários da Brasil Telecom, hoje
nas mãos dos fundos de pensão das
estatais. Lula (ou o PT?) não gostou.
Em 2005, quando servia a peso de
ouro ao banqueiro Daniel Dantas,
então controlador da Brasil Telecom, Mangabeira escreveu que o
governo era "o mais corrupto da
história" e exigiu o impeachment.
Dizia o diabo do presidente. Assim
como recuou candidamente do que
disse, parece também disposto a
abrir mão da ação judicial em prol
da boquinha na Sealopra.
Faz anos, décadas que Mangabeira brinca de salvar o Brasil. Como
Brás Cubas, é uma vítima das próprias idéias fixas. Mas nosso filósofo lembra o defunto autor de Machado de Assis num sentido mais
decisivo: é a volubilidade encarnada, a pirueta em pessoa -foi ideólogo do brizolismo em 89 e 94, passou
a apostar em Ciro Gomes em 98 e
2002, fez uma ronda recente entre
nanicos para, enfim, após tantas
voltas, cair no colo do lulismo. Logo
ele, que gastou tanta tinta.
Agora, que Lula deixou de ser o
veículo da transformação social, o
Brás Cubas de Harvard vem lhe
prestar a homenagem póstuma.
Mas presta antes ao próprio umbigo: queria salvar o Brasil, acabou
acomodando a si mesmo. Tem sido
essa a tônica entre os chamados
progressistas -desde, pelo menos,
quando FHC veio nos "salvar".
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