São Paulo, segunda-feira, 04 de junho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FERNANDO DE BARROS E SILVA

O emplastro e o aloprado

SÃO PAULO - O "affaire" Mangabeira Unger nasceu como piada pronta e desandou para o pastelão. Há pouco mais de 40 dias, Lula convidou o filósofo, afamado professor de direito de Harvard, para ocupar a Secretaria Especial para Ações de Longo Prazo -a sugestiva Sealopra.
Já perto da posse (prevista para o dia 13), Lula tratou de vazar para a imprensa que não quer mais saber de Mangabeira -espera simplesmente que ele desista do cargo. Assim, a pasta dedicada ao "longo prazo" surgiu do nada e foi fulminada em pouco mais de um mês, antes mesmo de funcionar. Ainda que vingue, está de saída condenada. Rarará! -este é o país de Zé Simão.
Mas sob o enredo cômico há jogo pesado. Mangabeira decidiu entrar na Justiça dos EUA para cobrar honorários da Brasil Telecom, hoje nas mãos dos fundos de pensão das estatais. Lula (ou o PT?) não gostou.
Em 2005, quando servia a peso de ouro ao banqueiro Daniel Dantas, então controlador da Brasil Telecom, Mangabeira escreveu que o governo era "o mais corrupto da história" e exigiu o impeachment. Dizia o diabo do presidente. Assim como recuou candidamente do que disse, parece também disposto a abrir mão da ação judicial em prol da boquinha na Sealopra.
Faz anos, décadas que Mangabeira brinca de salvar o Brasil. Como Brás Cubas, é uma vítima das próprias idéias fixas. Mas nosso filósofo lembra o defunto autor de Machado de Assis num sentido mais decisivo: é a volubilidade encarnada, a pirueta em pessoa -foi ideólogo do brizolismo em 89 e 94, passou a apostar em Ciro Gomes em 98 e 2002, fez uma ronda recente entre nanicos para, enfim, após tantas voltas, cair no colo do lulismo. Logo ele, que gastou tanta tinta.
Agora, que Lula deixou de ser o veículo da transformação social, o Brás Cubas de Harvard vem lhe prestar a homenagem póstuma. Mas presta antes ao próprio umbigo: queria salvar o Brasil, acabou acomodando a si mesmo. Tem sido essa a tônica entre os chamados progressistas -desde, pelo menos, quando FHC veio nos "salvar".


Texto Anterior: Editoriais: Nova paisagem

Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: Renan, o rei do gado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.