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Ignore-se
OITO DOS dos dez principais
pólos geradores de tráfego
da cidade de São Paulo
funcionam sem "Habite-se", o
documento emitido pela prefeitura que comprova que a obra foi
executada em conformidade
com as normas legais, inclusive
as de segurança e de trânsito. Estão nessa situação seis shoppings
centers e duas universidades.
Em alguns casos, as instituições
funcionam há mais de 40 anos.
Ou bem a gestão municipal padece de incompetência crônica,
incapaz de cumprir uma de suas
mais precípuas funções, o licenciamento urbano, ou o "Habite-se" é uma completa inutilidade,
um "Ignore-se", que só serve para administradores desonestos
achacarem contribuintes.
A verdade provavelmente encerra uma mistura dos dois: o poder público é incompetente e
maus servidores se valem das dificuldades criadas por uma legislação complexa e claudicante para vender facilidades.
É o problema clássico da burocracia. Embora o termo seja em
geral tomado em seu sentido pejorativo, um dos teóricos que
melhor desenvolveram o tema, o
alemão Max Weber (1864-1920),
o tomava como positivo. Dizia
que a burocracia, em termos
ideais, era uma forma de organização muito mais racional e eficiente do que as que a precederam, a saber a das autoridades
carismáticas e tradicionais.
Para Weber, entretanto, a burocracia tende a tornar-se ineficiente sempre que precisa decidir sobre casos individuais. Mas
há remédios para contrabalançar esse risco. Eles incluem a
criação de uma administração
pública profissional, duradoura
e impessoal, com os poderes de
cada funcionário claramente delimitados. É preciso também que
haja um sistema de decisões
transparente e aberto a revisão
administrativa ou judiciária.
Em suma: eficiência, simplicidade, transparência e controle.
Virtudes que sempre têm faltado
à administração do uso do solo
em São Paulo.
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