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Cadê o arco-íris?
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - A história do brasileiro
parece ser a da eterna busca de um
hipotético pote de ouro na ponta de
um imaginário arco-íris, como se encontrar o ouro bastasse para resolver
magicamente todos os problemas.
Mudaram nomes e formas, mas a
procura foi mais ou menos incessante.
Para ficar apenas no período coberto
pela minha memória, o primeiro nome do pote de ouro foi Jânio Quadros,
o que iria varrer a corrupção com sua
vassoura de bruxo (recorrente essa
questão, não?).
Não muito depois, deu-se o nome
dourado de revolução ao que não passava de um golpe de Estado (o de 64).
O país, graças ao movimento militar,
ficaria para sempre livre da "subversão" e da "corrupção" (outra vez?).
Rebento tardio do golpe, surgiu em
seguida a "abertura lenta, gradual e
segura", que foi muito mais lenta do
que abertura.
E, aí, em sucessão mais acelerada: a
anistia, as diretas-já, o Plano Cruzado, a Constituinte, Fernando Collor
(ou Luiz Inácio Lula da Silva), o impeachment de Fernando Collor, o Plano Real, Fernando Henrique Cardoso.
O Plano Real até que entregou pelo
menos uma moeda de ouro, na forma
de uma inflação civilizada, fenômeno
que toda uma geração de brasileiros
simplesmente desconhecia.
Parece, no entanto, que o ouro do
Real já não brilha, a julgar pela mais
recente pesquisa do Datafolha, ontem
publicada por esta Folha. A inflação
continua domesticada (houve até seu
inverso, a deflação, no mês passado),
mas o prestígio do presidente anda roçando o solo.
Pior: a pesquisa respinga decepção,
irritação, frustração por todos os seus
poros (ou, mais corretamente, em todos os seus números, itens e subitens).
Dá até para dizer que o céu por ela
desenhado é cinza-chumbo, carregado
de densas nuvens. Nessa configuração,
não dá para surgir o arco-íris. E, sem o
arco-íris, como é que o brasileiro vai
correr atrás do pote de ouro?
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