São Paulo, Sexta-feira, 04 de Junho de 1999
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Cadê o arco-íris?

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - A história do brasileiro parece ser a da eterna busca de um hipotético pote de ouro na ponta de um imaginário arco-íris, como se encontrar o ouro bastasse para resolver magicamente todos os problemas.
Mudaram nomes e formas, mas a procura foi mais ou menos incessante. Para ficar apenas no período coberto pela minha memória, o primeiro nome do pote de ouro foi Jânio Quadros, o que iria varrer a corrupção com sua vassoura de bruxo (recorrente essa questão, não?).
Não muito depois, deu-se o nome dourado de revolução ao que não passava de um golpe de Estado (o de 64). O país, graças ao movimento militar, ficaria para sempre livre da "subversão" e da "corrupção" (outra vez?).
Rebento tardio do golpe, surgiu em seguida a "abertura lenta, gradual e segura", que foi muito mais lenta do que abertura.
E, aí, em sucessão mais acelerada: a anistia, as diretas-já, o Plano Cruzado, a Constituinte, Fernando Collor (ou Luiz Inácio Lula da Silva), o impeachment de Fernando Collor, o Plano Real, Fernando Henrique Cardoso.
O Plano Real até que entregou pelo menos uma moeda de ouro, na forma de uma inflação civilizada, fenômeno que toda uma geração de brasileiros simplesmente desconhecia.
Parece, no entanto, que o ouro do Real já não brilha, a julgar pela mais recente pesquisa do Datafolha, ontem publicada por esta Folha. A inflação continua domesticada (houve até seu inverso, a deflação, no mês passado), mas o prestígio do presidente anda roçando o solo.
Pior: a pesquisa respinga decepção, irritação, frustração por todos os seus poros (ou, mais corretamente, em todos os seus números, itens e subitens).
Dá até para dizer que o céu por ela desenhado é cinza-chumbo, carregado de densas nuvens. Nessa configuração, não dá para surgir o arco-íris. E, sem o arco-íris, como é que o brasileiro vai correr atrás do pote de ouro?


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