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São Paulo, sexta-feira, 04 de julho de 2003

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TENDÊNCIAS/DEBATES

O auditório do Ibirapuera

OSCAR NIEMEYER

Quando o senador Eduardo Suplicy e amigos de São Paulo me sugeriram ir a essa cidade falar com os procuradores do Conselho Superior do Ministério Público, eu preferi não o fazer. Os problemas por eles levantados parecem muito simples de ser esclarecidos. Reclamam que, com a construção do auditório, haverá uma perda da permeabilidade do solo de 4.000 m2, e nós esclarecemos que, com a mudança do piso das ruas do parque Ibirapuera, haverá um acréscimo de 80 mil m2. É uma questão de aritmética que dispensa comentários.


Em Brasília, para a construção do Museu do Índio, mudamos de lugar muitas mangueiras, sem maiores dificuldades


Falam, ainda, dos problemas do tráfego, que, dizem, vão se agravar, e das árvores existentes. Centenas de milhares de pessoas circulam pela região; não será um auditório para 900 pessoa que irá agravar o tráfego; e, quanto às árvores, o auditório está projetado há mais de 50 anos, por que não as colocaram em outro local? Mesmo assim não há problema; Em Brasília, para a construção do Museu do Índio, mudamos de lugar muitas mangueiras, sem maiores dificuldades. O mesmo pode se fazer no Ibirapuera.
Agora, impossibilitado de comparecer à audiência convocada pelo juiz Rômulo Russo Jr., que, zeloso, quer ter esclarecimentos de ambas as partes -antes de tomar uma decisão-, achei útil escrever este texto. É claro que eu poderia acrescentar argumentos já conhecidos pelo povo, inclusive dizer que não se justifica, em hipótese nenhuma, deixar inacabada a entrada daquele parque tão importante para São Paulo. Ainda mais quando, graças à competência da prefeita Marta Suplicy, a execução do auditório se fará sem gasto de dinheiro público.
No momento em que surge uma mobilização de arquitetos e artistas da Inglaterra para que o pavilhão por mim projetado para o Hyde Park, em Londres, de caráter efêmero, aí permaneça; em que vai se iniciar em Ravello, com muito entusiasmo, o teatro por mim desenhado; e em Moscou me pedem projetar um monumento pela paz, sinto com desagrado essa falta de respeito com que tratam um projeto aprovado há meio século, assinado por mim e meus colegas Kneese de Melo, Lotufo e Hélio Uchoa.

Oscar Niemeyer, 93, arquiteto, é um dos criadores de Brasília. Tem obras edificadas na Alemanha, Argélia, EUA, França, Israel, Itália, Líbano e Portugal, entre outros países.


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