São Paulo, quarta-feira, 04 de julho de 2007

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RUY CASTRO

Sem celular

RIO DE JANEIRO - Dentro de um mês, haverá um telefone celular para cada duas pessoas na Terra. Pelos cálculos, serão 3,3 bilhões de aparelhos para 6,6 bilhões de pessoas. Parece, mas não é -ainda- o fim dos tempos. Significa que, de cada duas pessoas no planeta, restará uma que não sente ânsias de se comunicar o tempo todo, que não aceita ficar disponível 24 horas por dia e não corre o risco de constranger os artistas deixando seu aparelho tocar no meio da platéia do Teatro Municipal. Essa pessoa ainda valoriza o ato de falar ao telefone, usando-o apenas quando tem algo prazeroso ou inadiável a dizer. E valoriza, sobretudo, o ato de não falar ao telefone.
Mas o dito placar, de alto conteúdo simbólico, só terá a duração de 60 segundos. Como, no mundo, são assinados mil novos contratos de telefonia móvel por minuto, este é o tempo que levará para que os usuários de celular passem à frente dos não usuários e disparem na corrida para empatar com o número total de habitantes.
Quais são os maiores responsáveis pelo galopante aumento na quantidade de celulares? A China, a Índia, a África e, claro, o Brasil. Quanto mais emergente, mais um povo parece precisar de celulares. Os americanos, os japoneses e os europeus, pelo visto, não precisam de tantos ou já têm todos os de que precisam.
Não me entendam mal, sou a favor do celular. Apenas me pergunto o que a turma tanto fala ao telefone. Do tambor ao computador, o ser humano sempre inventou meios para trocar mensagens. Mas, pelas amostras que recolho de ouvido nas ruas, fala-se ao celular apenas porque ele está à mão. Marshall McLuhan acertou na pinta: o meio é a mensagem. Temo que, um dia, exceto por Caetano Veloso e Vera Fischer, eu seja a única pessoa das minhas relações a não ter celular.


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