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São Paulo, segunda-feira, 04 de agosto de 2003

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EUA NA DEFESA

Foi espantosa a capacidade do governo dos Estados Unidos de sustentar o crescimento do PIB no segundo trimestre do ano. Apenas os dispêndios públicos abrigados na rubrica "defesa" (gastos militares, principalmente) foram responsáveis por 70% do aumento do volume de bens e serviços produzido no país de abril a junho, em relação ao primeiro quarto do ano.
Os efeitos de médio e longo prazos dessa explosão de gastos, no entanto, poderão não ser de todo positivos. É difícil conceber que o aumento dos dispêndios possa seguir no mesmo ritmo. A própria capacidade de ampliar os gastos públicos pode estar se esgarçando, como sugere a recente projeção de um déficit público de US$ 450 bilhões.
Até meados de junho, os agentes econômicos vinham endossando a política monetária e fiscal expansiva. O prêmio pago pelos papéis de referência do Tesouro chegou a níveis historicamente baixos, perto dos 3% ao ano. Mas esse sinal começou a inverter-se a partir de sinalizações do Federal Reserve (banco central americano) de que o risco de deflação estaria se esmaecendo e das notícias de expansão do déficit público.
Isso significa que os juros internacionais estão aumentando, o que pode não ser uma boa notícia para o Brasil. Seja porque os papéis do Tesouro americano começam a render mais, seja porque as perspectivas de retomada da economia tornam mais atrativos os mercados acionários dos EUA, seja porque esse movimento implica aumento da taxa de captação internacional dos emergentes, empresas e governo brasileiro já começam a sentir novas dificuldades para obter recursos no exterior.
No cenário mais otimista, essa perda de investimentos de curto prazo será compensada por um ganho de mercado para as exportações brasileiras, caso a economia dos EUA de fato deslanche. Na hipótese contrária, de que a maior economia do planeta não reencontre logo a rota do crescimento sustentado, pode estar se desenhando a próxima turbulência cambial do Brasil. Esse é mais um elemento a recomendar que as autoridades brasileiras reflitam com bastante cuidado acerca da hipótese de renovar ou não o acordo com o FMI.


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