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EUA NA DEFESA
Foi espantosa a capacidade do
governo dos Estados Unidos de
sustentar o crescimento do PIB no
segundo trimestre do ano. Apenas os
dispêndios públicos abrigados na
rubrica "defesa" (gastos militares,
principalmente) foram responsáveis
por 70% do aumento do volume de
bens e serviços produzido no país de
abril a junho, em relação ao primeiro
quarto do ano.
Os efeitos de médio e longo prazos
dessa explosão de gastos, no entanto, poderão não ser de todo positivos. É difícil conceber que o aumento
dos dispêndios possa seguir no mesmo ritmo. A própria capacidade de
ampliar os gastos públicos pode estar se esgarçando, como sugere a recente projeção de um déficit público
de US$ 450 bilhões.
Até meados de junho, os agentes
econômicos vinham endossando a
política monetária e fiscal expansiva.
O prêmio pago pelos papéis de referência do Tesouro chegou a níveis
historicamente baixos, perto dos 3%
ao ano. Mas esse sinal começou a inverter-se a partir de sinalizações do
Federal Reserve (banco central americano) de que o risco de deflação estaria se esmaecendo e das notícias de
expansão do déficit público.
Isso significa que os juros internacionais estão aumentando, o que pode não ser uma boa notícia para o
Brasil. Seja porque os papéis do Tesouro americano começam a render
mais, seja porque as perspectivas de
retomada da economia tornam mais
atrativos os mercados acionários dos
EUA, seja porque esse movimento
implica aumento da taxa de captação
internacional dos emergentes, empresas e governo brasileiro já começam a sentir novas dificuldades para
obter recursos no exterior.
No cenário mais otimista, essa perda de investimentos de curto prazo
será compensada por um ganho de
mercado para as exportações brasileiras, caso a economia dos EUA de
fato deslanche. Na hipótese contrária, de que a maior economia do planeta não reencontre logo a rota do
crescimento sustentado, pode estar
se desenhando a próxima turbulência cambial do Brasil. Esse é mais um
elemento a recomendar que as autoridades brasileiras reflitam com bastante cuidado acerca da hipótese de
renovar ou não o acordo com o FMI.
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