São Paulo, quarta-feira, 04 de agosto de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Moralidade x sucesso

SÃO PAULO - O metro com que se mede a moralidade pública deteriorou-se de tal forma que o importante não é se o funcionário público tem ou não tem culpa no cartório, mas se está ou não sendo bem-sucedido. O caso Henrique de Campos Meirelles é exemplar a esse respeito.
Basta reproduzir a avaliação de Paulo Pereira, estrategista da Sul América Investimentos, na Folha de ontem: "As denúncias feitas contra o Meirelles teriam outro peso se tivessem ocorrido há um ano. Daí, sem a força que Meirelles tem hoje, o mercado poderia ter estressado, acreditando na queda dele".
É isso mesmo: para o mercado, se a economia ainda estivesse patinando ou recuando como no ano passado, Meirelles poderia ser tranqüilamente sacrificado como criminoso. Agora que a economia vai bem, passa a ser inocente mesmo que haja prova em contrário.
Está provado que o presidente do Banco Central declarou um domicílio eleitoral diferente do domicílio fiscal. Se é irregularidade ou não, é outra discussão. Mas comportamento exemplar certamente não é.
Não obstante, o mercado não se preocupa porque acha que a gestão Meirelles está sendo bem-sucedida. Do ponto de vista do mercado, aliás, seria difícil ser mais bem-sucedida, do que dão prova os balanços dos bancos que começam a pingar com resultados espetaculares. É o único setor em que de fato se dá o "espetáculo do crescimento".
Que o mercado pense assim, entende-se. Sua lógica é outra, a do lucro. Moralidade não entra na contabilidade, a não ser quando atrapalha.
O diabo é que o governo do PT, partido que, em um passado que já vai ficando remoto, se apresentava como monopolista das virtudes, agora aceita a lógica. Recomenda a Meirelles que permaneça no cargo para não atrapalhar a recuperação da economia.
Fica cada vez mais evidente que Fernando Collor de Mello caiu não porque violou a dignidade do cargo, mas porque sua gestão econômica foi um completo desastre.


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