São Paulo, quarta-feira, 04 de agosto de 2010

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TENDÊNCIAS/DEBATES

CHARLES ANDREW TANG

Essência do debate sobre a moeda chinesa


Uma valorização da moeda chinesa não deverá reduzir o deficit comercial americano; outros países substituirão os bens produzidos na China


A falta de regulamentação de Wall Street derrubou a economia americana e causou a crise global.
Agora, querem que a China pague sua conta, para que a economia americana possa, talvez, superar suas dificuldades.
Enquanto desvaloriza seu dólar, imprimindo sem lastro quantias vultosas de que necessita, pressiona a China para valorizar o yuan.
O dólar desvalorizado ajuda as exportações americanas, gera empregos e, em termos reais, reduz suas vastas dívida e obrigações.
A dívida americana se aproxima de seu PIB (Produto Interno Bruto) e suas obrigações em dólar chegam a 3,5 vezes o valor de seu PIB.
O gigantesco deficit americano mostra a fragilidade da maior economia global e demonstra que o pilar do mundo deixou de ser tão sólido. Após a perda de bilhões de reservas em dólares desvalorizados, a China adotou a paridade com o dólar como medida defensiva.
Uma valorização da moeda chinesa não deverá reduzir o deficit comercial americano. Outros países de baixo custo certamente substituirão os bens ora produzidos na China. No passado, a valorização do iene promovida por pressão americana não diminuiu seu consumo de produtos japoneses.
Quase 75% do superavit chinês foi exportado por multinacionais na China. Se o Congresso americano chamasse a Washington essas empresas americanas, a fim de reduzir seu deficit, teria mais efeito que pressionar o governo chinês.
O crescimento chinês permitiu a maior conquista de direitos humanos na história da humanidade: além de tirar 450 milhões de chineses da faixa da pobreza, ainda o fez para milhões de habitantes dos países que se enriquecem graças à crescente demanda chinesa.
Foi assim que o Brasil pagou sua dívida externa e acumulou US$ 250 bilhões de reservas que ajudaram a superar a recente crise global. Em 2009, o Brasil lucrou no intercâmbio com a China, tendo um superavit de US$ 4,3 bilhões.
O crescimento chinês gerou prosperidade muito além de suas fronteiras -no Brasil, na Austrália, na África e até nos EUA e na Europa.
A locomotiva do crescimento chinês ajudou a tirar o mundo da recessão. Todavia, países que mais se beneficiaram com a prosperidade chinesa fazem eco ao coro dos que querem a valorização de sua moeda. Muitos certamente não pensaram nas consequências que uma desaceleração chinesa traria.
Para a convivência pacífica e harmoniosa com seus parceiros, a China anunciou a volta de sua política de lenta valorização do yuan baseada em "cesta" internacional de moedas.
Após valorização de 17% em relação ao euro, do seu maior parceiro comercial, valorização significativa em relação ao dólar seria inviável. Tal anúncio também aliviou a pressão pela valorização da moeda chinesa na reunião do G20 no Canadá.
A recuperação da economia mundial ainda é frágil, e os problemas do euro podem contaminar outros países. Embora uma economia americana forte seja importante para a prosperidade mundial, a China não pode pagar sozinha a conta.
Centenas de milhões de chineses ainda vivem abaixo da linha de pobreza, e o mundo precisa continuar a se beneficiar do crescimento chinês.


CHARLES ANDREW TANG é presidente binacional da Câmara de Comércio & Indústria Brasil-China e fundador do Instituto de Pesquisa e Estudo de Desenvolvimento Econômico.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

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