|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O amante de Capitu
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Tornou-se um lugar-comum crítico: Machado de Assis jamais colocou em seus romances qualquer elemento autobiográfico. Recentemente, no centenário de ""Dom Casmurro", houve uma enxurrada de celebrações e estudos, a ninguém ocorreu que o caso de Capitu podia ser
confessional.
Conto o que li em diários e crônicas
daquele tempo, mantendo as iniciais
por conveniência, há parentes vivos
da pessoa em questão.
Todos sabiam da amizade filial de
Machado por M. de A. -simples coincidência nas iniciais. Ao fundar a Academia, indicou-o como membro da
primeira leva, o rapaz tinha então 20 e
tantos anos, um único livro sem valor.
Fisicamente, tinha traços de Machado, a mesma testa, o mesmo cabelo
crespo, alguns tiques iguais.
Indo a um médico, por causa desses
tiques, teve diagnosticada a epilepsia
-doença hereditária que tanto maltratara Machado. Tão discreto quanto o autor de ""Helena", viveu na sombra, passou anos fora do Brasil. Ninguém entendia o amor que Machado
tinha por ele. Ninguém entendia como
os dois poderiam ser tão parecidos fisicamente.
Dos membros fundadores da Academia foi o último a morrer. Não fora a
excepcional amizade de Machado, teria sido apenas um diplomata a mais.
Foram pouquíssimos os contemporâneos de Machado que notaram, nele, a mesma coincidência do filho de
Capitu, que se parecia com o amante
dela e não com o pai do rapaz. Há testemunhos disso: o médico Afonso
Mac-Dowell, que cuidava de vários
acadêmicos, e Goulart de Azevedo,
que contou a história a Humberto de
Campos.
Sendo verdadeira a suposição, fica
encerrada a questão do adultério. O
amante de Capitu era o próprio Machado.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Muita falação Próximo Texto: Antonio Delfim Netto: Nas mãos do presidente Índice
|