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CLÓVIS ROSSI
Baixaria pedagógica
SÃO PAULO - Todas as vezes em que fui chamado a dar palpites sobre a
cobertura eleitoral nesta Folha, desde o pleito de 1989, insisti na importância de o jornal pôr ênfase no programa dos candidatos.
Sou obrigado a reconhecer que fracassamos nessa tarefa. Os textos a
respeito nunca conseguiram ser ao
mesmo tempo relevantes e interessantes. Ou eram relevantes, mas chatos, ou nem relevantes eram.
Se, neste ano, tivesse sido convocado de novo, mudaria o foco totalmente. Os problemas do Brasil estão
todos mais que diagnosticados, radiografados, tomografados. E as soluções propostas, ao menos nesta eleição, não diferem lá grande coisa entre um candidato e outro.
Logo, os programas se parecem tanto que não é razoável imaginar que a
escolha do candidato possa depender
fundamental deles.
Depende, sim, de biografia, temperamento, caráter, companheiros de
viagem, bobagens que dizem, mentiras que contam e por aí vai.
É por isso que os debates entre candidatos prestam inestimável serviço
ao público, como aconteceu anteontem no programa levado ao ar pela
TV Record. Suspeito que aquilo que
companheiros chamaram de ataques, de agressões etc. acabam sendo
mais reveladores do que os detalhes
da reforma tributária que cada candidato está propondo (e não há candidato que não tenha a sua).
Presidentes -como candidatos,
aliás- não governam em condições
ideais de temperatura e pressão. Portanto é importante ver como reagem
os candidatos quando confrontados
com situações ásperas como as que se
viram e ouviram anteontem.
Houve baixaria? Talvez. Mas, se os
puristas me perdoam o exagero, suspeito que, em processos eleitorais, até
a baixaria é pedagógica. É direito e
dever inalienável do eleitor distinguir
baixaria de crítica dura, punir o autor da primeira, premiar o da segunda e descobrir quem sabe se livrar de
armadilhas com mais classe.
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