São Paulo, quarta-feira, 04 de setembro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Baixaria pedagógica

SÃO PAULO - Todas as vezes em que fui chamado a dar palpites sobre a cobertura eleitoral nesta Folha, desde o pleito de 1989, insisti na importância de o jornal pôr ênfase no programa dos candidatos.
Sou obrigado a reconhecer que fracassamos nessa tarefa. Os textos a respeito nunca conseguiram ser ao mesmo tempo relevantes e interessantes. Ou eram relevantes, mas chatos, ou nem relevantes eram.
Se, neste ano, tivesse sido convocado de novo, mudaria o foco totalmente. Os problemas do Brasil estão todos mais que diagnosticados, radiografados, tomografados. E as soluções propostas, ao menos nesta eleição, não diferem lá grande coisa entre um candidato e outro.
Logo, os programas se parecem tanto que não é razoável imaginar que a escolha do candidato possa depender fundamental deles.
Depende, sim, de biografia, temperamento, caráter, companheiros de viagem, bobagens que dizem, mentiras que contam e por aí vai.
É por isso que os debates entre candidatos prestam inestimável serviço ao público, como aconteceu anteontem no programa levado ao ar pela TV Record. Suspeito que aquilo que companheiros chamaram de ataques, de agressões etc. acabam sendo mais reveladores do que os detalhes da reforma tributária que cada candidato está propondo (e não há candidato que não tenha a sua).
Presidentes -como candidatos, aliás- não governam em condições ideais de temperatura e pressão. Portanto é importante ver como reagem os candidatos quando confrontados com situações ásperas como as que se viram e ouviram anteontem.
Houve baixaria? Talvez. Mas, se os puristas me perdoam o exagero, suspeito que, em processos eleitorais, até a baixaria é pedagógica. É direito e dever inalienável do eleitor distinguir baixaria de crítica dura, punir o autor da primeira, premiar o da segunda e descobrir quem sabe se livrar de armadilhas com mais classe.



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