São Paulo, quarta-feira, 04 de setembro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Não vi e gostei

RIO DE JANEIRO - Tendo coisas mais interessantes a fazer, não vi o debate de anteontem entre os presidenciáveis. Não vi, mas gostei, pois li as folhas no dia seguinte e fiquei encantado. Ao contrário da maioria, edifiquei-me com todos eles, inclusive com o Boris, que teria roubado a melhor parte do programa.
A campanha eleitoral, até agora, foi produzida, pautada e editada pelos marqueteiros. Os candidatos foram vendidos como sabonetes, pastas de dente e desinfetantes contra mosquitos. Agora é que eles estão soltos, em estado puro -ou quase puro-, sendo o que são e pensando o que costumam pensar.
O ideal seria juntar dois programas recentes da TV, o "Big Brother" ou "A Casa dos Artistas", com os debates do horário eleitoral. Deixo de graça a idéia: colocar os quatro numa casa, sozinhos, sem empregados nem assessores, a câmara registrando sem cortes o dia-a-dia deles, ou melhor, os dias e as noites. Ficaríamos sabendo quem ronca mais, quem vai mais ao banheiro, quem come ou fala demais.
Eles fariam os serviços domésticos entre si, distribuindo tarefas, teriam direito ao lazer, ou seja, a não fazer nada durante um tempo, ou a fazer tudo ao mesmo tempo.
Só assim o povo brasileiro ficaria conhecendo cada um, sabendo quem é quem, qual o mais capaz de governar uma casa, uma coletividade.
Adversários da minha sugestão dirão que estou brincando. Mas quem está brincando não sou eu, é todo o processo eleitoral em si mesmo, discutindo e projetando uma realidade futura para a qual as coordenadas estão sendo superadas por uma situação internacional em acelerado processo de mutação, tanto no campo econômico como no social e no político.
De maneira que o melhor desses debates é ficarmos sabendo não o que os candidatos foram ou prometem ser, mas o que são diante de si mesmos. Pelo último debate, a que não assisti, eu votaria mesmo no Boris Casoy.



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