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CARLOS HEITOR CONY
Não vi e gostei
RIO DE JANEIRO - Tendo coisas mais interessantes a fazer, não vi o debate
de anteontem entre os presidenciáveis. Não vi, mas gostei, pois li as folhas no dia seguinte e fiquei encantado. Ao contrário da maioria, edifiquei-me com todos eles, inclusive
com o Boris, que teria roubado a melhor parte do programa.
A campanha eleitoral, até agora,
foi produzida, pautada e editada pelos marqueteiros. Os candidatos foram vendidos como sabonetes, pastas
de dente e desinfetantes contra mosquitos. Agora é que eles estão soltos,
em estado puro -ou quase puro-,
sendo o que são e pensando o que
costumam pensar.
O ideal seria juntar dois programas
recentes da TV, o "Big Brother" ou "A
Casa dos Artistas", com os debates do
horário eleitoral. Deixo de graça a
idéia: colocar os quatro numa casa,
sozinhos, sem empregados nem assessores, a câmara registrando sem cortes o dia-a-dia deles, ou melhor, os
dias e as noites. Ficaríamos sabendo
quem ronca mais, quem vai mais ao
banheiro, quem come ou fala demais.
Eles fariam os serviços domésticos
entre si, distribuindo tarefas, teriam
direito ao lazer, ou seja, a não fazer
nada durante um tempo, ou a fazer
tudo ao mesmo tempo.
Só assim o povo brasileiro ficaria
conhecendo cada um, sabendo quem
é quem, qual o mais capaz de governar uma casa, uma coletividade.
Adversários da minha sugestão dirão que estou brincando. Mas quem
está brincando não sou eu, é todo o
processo eleitoral em si mesmo, discutindo e projetando uma realidade
futura para a qual as coordenadas
estão sendo superadas por uma situação internacional em acelerado
processo de mutação, tanto no campo econômico como no social e no político.
De maneira que o melhor desses debates é ficarmos sabendo não o que
os candidatos foram ou prometem
ser, mas o que são diante de si mesmos. Pelo último debate, a que não
assisti, eu votaria mesmo no Boris
Casoy.
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