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E A CHINA NÃO RETRIBUIU
Vai se revelando ingênua a
estratégia de negociação do governo brasileiro com Pequim. O Brasil concedeu à China o status de economia de mercado em novembro de
2004, o que dificultou a imposição de
restrições (salvaguardas) sobre exportações subsidiadas daquele país.
A contrapartida desse status comercial privilegiado era a promessa
de investimentos chineses em infra-estrutura, sobretudo em portos e estradas, estimados em US$ 9 bilhões,
a fim de fomentar as exportações
brasileiras. Brasília teria ainda o
apoio da nação asiática nas negociações para uma vaga no Conselho de
Segurança da ONU.
Todas essas contrapartidas soçobram, e as exportações chinesas continuam se expandindo. A tentativa do
governo brasileiro de obter uma redução voluntária das exportações
chinesas, especialmente em têxteis,
calçados, brinquedos, pneus e eletroeletrônicos, também malogrou.
A estratégia brasileira precisa ser
redefinida. A China procura construir uma complementaridade produtiva no continente asiático mediante um forte comércio intra-industrial entre os países e exportações
de alto valor agregado para os principais mercados (EUA e União Européia). O interesse dos chineses nos
países latino-americanos, incluído o
Brasil, está concentrado na demanda
por matérias-primas e alimentos.
Estudo do Ipea mostra que a pauta
das exportações brasileiras para o
mercado chinês está concentrada em
produtos de baixo valor agregado:
28% em commodities; 14% em produtos intensivos em trabalho e recursos naturais; 34% em mercadorias
de baixa intensidade tecnológica,
19% de média intensidade e apenas
6% de alta intensidade.
A expansão chinesa, assentada em
boa medida em práticas comerciais
lesivas, ameaça seriamente alguns
setores industriais brasileiros. Por isso, o Itamaraty deve endurecer suas
relações com o gigante asiático e não
deve abrir mão de impor salvaguardas setoriais às compras da China.
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