São Paulo, terça-feira, 04 de outubro de 2005

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E A CHINA NÃO RETRIBUIU

Vai se revelando ingênua a estratégia de negociação do governo brasileiro com Pequim. O Brasil concedeu à China o status de economia de mercado em novembro de 2004, o que dificultou a imposição de restrições (salvaguardas) sobre exportações subsidiadas daquele país.
A contrapartida desse status comercial privilegiado era a promessa de investimentos chineses em infra-estrutura, sobretudo em portos e estradas, estimados em US$ 9 bilhões, a fim de fomentar as exportações brasileiras. Brasília teria ainda o apoio da nação asiática nas negociações para uma vaga no Conselho de Segurança da ONU.
Todas essas contrapartidas soçobram, e as exportações chinesas continuam se expandindo. A tentativa do governo brasileiro de obter uma redução voluntária das exportações chinesas, especialmente em têxteis, calçados, brinquedos, pneus e eletroeletrônicos, também malogrou.
A estratégia brasileira precisa ser redefinida. A China procura construir uma complementaridade produtiva no continente asiático mediante um forte comércio intra-industrial entre os países e exportações de alto valor agregado para os principais mercados (EUA e União Européia). O interesse dos chineses nos países latino-americanos, incluído o Brasil, está concentrado na demanda por matérias-primas e alimentos.
Estudo do Ipea mostra que a pauta das exportações brasileiras para o mercado chinês está concentrada em produtos de baixo valor agregado: 28% em commodities; 14% em produtos intensivos em trabalho e recursos naturais; 34% em mercadorias de baixa intensidade tecnológica, 19% de média intensidade e apenas 6% de alta intensidade.
A expansão chinesa, assentada em boa medida em práticas comerciais lesivas, ameaça seriamente alguns setores industriais brasileiros. Por isso, o Itamaraty deve endurecer suas relações com o gigante asiático e não deve abrir mão de impor salvaguardas setoriais às compras da China.


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