|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Candidatos de plástico
SÃO PAULO - Se ainda fosse necessário, as primeiras entrevistas
dos dois finalistas já mostraram
que correm sério risco de frustração e desencanto aqueles que esperam debates de verdade e apresentação de propostas de verdade no
segundo turno.
O marketing político é hoje tão
poderoso que tanto Luiz Inácio Lula da Silva como Geraldo Alckmin
parecem de plástico, repetindo bordões que sabem ser o que esperam
seus eleitores e, ao mesmo tempo,
não agridem os eleitores dos outros.
Alckmin ataca de "o Brasil pode
fazer mais" (todo mundo pode,
sempre) e de "ética e política não
são incompatíveis", tese controversa, ao menos no Brasil.
Lula vai encadear a sua série de
"nunca neste país...".
Como seria bom se os dois tivessem um lampejo de sinceridade e
deixassem ver a alma, como aconteceu com o presidente na entrevista
que deu a um pequeno grupo de jornalistas, a bordo do avião, reproduzida nesta Folha pela colunista Mônica Bergamo.
Disse Lula: "A única frustração
que eu tenho é que os ricos não estejam votando em mim. Porque
eles ganharam dinheiro como ninguém em meu governo".
Uma frase, duas revelações, ainda que uma desnecessária. Primeira revelação (conhecida): os ricos é
que realmente ganharam dinheiro
em seu governo. Logo, a imagem de
"pai dos pobres" é pura demagogia.
Os números dão razão a Lula: R$
110 bilhões para remunerar os detentores dos títulos da dívida pública (todos ricos, alguns podres de ricos) e apenas R$ 7 bilhões para o
Bolsa Família, destinados aos pobres entre os pobres.
A segunda revelação é o incontido desejo, típico em novo rico, de
ser querido e amado pelos "velhos
ricos". Não há mal nisso.
É humano. O mal está em apresentarem-se, ambos, como se fossem de plástico.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Fim das disciplinas
Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: Lula e a onda Índice
|