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Sombra golpista
Os acontecimentos da semana
passada no Equador trouxeram de
volta a sombra de um tempo recente, em que governos instáveis
e tentativas de golpes eram rotineiros na América do Sul.
Desta vez, foram membros da
polícia equatoriana que se rebelaram contra a aprovação de um
projeto que reduzia bonificações
para a corporação. Tomaram aeroportos, a Assembleia Nacional e
sitiaram o hospital no qual o presidente Rafael Correa fora internado
após ser atacado com bombas de
gás lacrimogêneo pelos policiais.
O desenlace da insubordinação
veio com o apoio da cúpula militar
a Correa e a permanência do presidente no poder, em mais um sinal
de que esse tipo de aventura já não
encontra terreno fértil para prosperar no subcontinente.
Deve-se destacar neste caso a
rápida mobilização de toda a comunidade sul-americana, galvanizada na Unasul (União de Nações Sul-Americanas). Governantes de posições opostas, como o liberal conservador Juan Manuel
Santos (Colômbia) e o populista
de esquerda Hugo Chávez (Venezuela) se uniram a favor da ordem
constitucional no Equador.
Cabe ressaltar, porém, que Correa tem assumido atitudes no mínimo questionáveis. Antes da rebelião policial, o presidente equatoriano, com dificuldades para
aprovar projetos de lei, pretendia
recorrer ao chamado instituto da
"morte cruzada", previsto na
Constituição de inspiração chavista que seu governo conseguiu
aprovar em 2008.
A "morte cruzada" consiste na
dissolução do Legislativo e na
convocação de eleições gerais antecipadas. O intuito de Correa seria aproveitar o vácuo de poder
nos três meses antes da nova votação para aprovar leis por decreto
-e depois reforçar sua autoridade
com uma nova vitória nas urnas.
O governo equatoriano anunciou ter desistido da iniciativa. Espera-se que definitivamente, pois
o instituto da "morte cruzada" é,
por si, uma ameaça à normalidade
democrática no país, tantas vezes
interrompida nas décadas que antecederam a posse de Correa.
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