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RUY CASTRO
O grosso e o fino
RIO DE JANEIRO - Fred Flintstone,
criação da dupla William Hanna e
Joseph Barbera nos quadrinhos e
nos desenhos animados, acaba de
fazer 50 anos. Todo mundo conhece. A graça dessa saga é que ela se
passa na pré-história, mas eles já
têm os nossos confortos do século
20: automóvel, televisão, geladeira, telefone, cinema, elevador, batedeira de bolo etc. A diferença é
que é tudo movido a lenha.
Antes dele, outro herói das cavernas era Brucutu, criado em 1932
por V. T. Hamlin e também até hoje
na praça. Graças à máquina do tempo do Professor Papanatas, Brucutu tem livre trânsito de antes a depois de Cristo e vice-versa, e já fez
de tudo, desde imprimir um jornal
na Idade da Pedra até chegar de dinossauro para embarcar num foguete. Em Brucutu, impera a alta
tecnologia; em Flintstone, a baixa.
O Brasil poderia ser cenário dessas duas sagas simultaneamente.
Aqui, o avanço e a modernidade
convivem tão bem com o atraso que
poucos se dão conta da esquizofrenia que isso envolve. Por exemplo:
tem o sistema de votação e apuração de votos mais confiável do
mundo -para eleger certos políticos em que ninguém, em sã consciência, confiaria o cachorro para
passear na rua. E há uma evidente
contradição em entrar naquela cabine do século 21 e fazer surgir na
tela o nome e a imagem do Tiririca,
não? (Não que ele seja o pior.)
O país tem recursos inimagináveis em energia e ferramentas de última geração para explorá-los. Mas
os ministérios a que tais riquezas se
subordinam, de alta especialidade,
são entregues a políticos profissionais de quem se duvida que saibam
extrair uma raiz quadrada. Nossas
favelas têm computadores, TVs de
plasma, gatonet e microondas, mas
não têm esgoto -os apartamentos
de luxo da Barra da Tijuca também
não. E por aí vai.
É Flintstone e Brucutu no mesmo
quadrinho, o grosso e o fino no mesmo Brasil profundo.
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