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CLÓVIS ROSSI
O Carandiru aéreo
SÃO PAULO - A queda do avião da
Gol causou mais mortes (154) que
os 111 do Carandiru. Mas, ao contrário do que aconteceu no presídio
paulista, a responsabilidade por este crime fica diluída nas dobras de
um poder público imensamente
ineficiente.
Primeiro, culpou-se os pilotos do
Legacy, que eram estrangeiros, ainda por cima norte-americanos, os
suspeitos usuais em qualquer problema que ocorra na América Latina, tenham ou não qualquer tipo de
culpa.
Depois, o foco passou para os
controladores de vôo. Digamos que
tenham de fato errado. São culpados? Ou culpada é uma administração que forçou-os a trabalhar fora
das normas e padrões internacionalmente aceitos? Fala-se de controladores que "pilotavam" 20
aviões simultaneamente, quando o
limite normal é 14.
É preciso uma defensora do consumidor como Maria Inês Dolci, na
Folha de ontem, para apontar o dedo para o verdadeiro culpado: "O
desvio das verbas para segurança
aérea, a partir de 2003, já sob o domínio do "nunca ninguém jamais".
Refiro-me aos R$ 286,5 milhões
efetivamente empregados no programa de proteção ao vôo até agora,
dos R$ 531,7 milhões previstos para
este ano".
Posto de outra forma, o governo
gastou a metade do que deveria gastar para proteger a vida dos passageiros de aviões. Não consta, por
exemplo, que tenha gastado só a
metade do que deveria gastar para
pagar os credores da dívida pública.
Natural: a vida humana, neste governo como em anteriores, vale menos que a bolsa.
O pior é que, se se encontrou a
caixa-preta do avião da Gol, a caixa-preta que é a forma de operar do governo no Brasil continua escondida. É preciso um Carandiru aéreo
para que fiquemos sabendo que, cada vez que um avião voa pelos céus
do Brasil, seus passageiros correm
risco de vida.
crossi@uol.com.br
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