São Paulo, terça-feira, 04 de novembro de 2008

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EUA na encruzilhada

Biografias e trajetórias de Barack Obama e John McCain personificam a antinomia que divide a nação norte-americana

OS ESTADOS UNIDOS chegam divididos à eleição de seu 44º presidente. O cisma profundo que perpassa a sociedade americana fica muito evidente nos mapas com projeções de votação.
Estados azuis -pró-Obama, candidato democrata- se concentram no nordeste, na Costa Oeste e nos Grande Lagos, regiões mais abertas ao mundo e às novas idéias. Os Estados vermelhos -pró-McCain, republicano- tendem a localizar-se no Sul e no coração do Oeste, a parte dos EUA voltada para si mesma e suas tradições, marcadamente religiosas.
A polarização não separa apenas adeptos e adversários do republicano George W. Bush, cuja administração termina numa violenta crise econômica, batendo recordes de impopularidade. São duas mentalidades que se opõem. O entrechoque de poderosas correntes subterrâneas não permite excluir de todo uma vitória de John McCain.
Já por suas biografias e trajetórias, os dois candidatos personificam a antinomia que divide os EUA -e inquieta todas as nações que aprenderam a respeitá-los.
Barack Hussein Obama, 47, compõe uma síntese de cultuadas tradições americanas. Filho de um casamento birracial incomum -pai queniano, mãe americana- que passou a infância e a adolescência longe da América, no Havaí e na Indonésia, Obama galgou o topo da elite dos Estados Unidos pela escada do mérito, que o levou às universidades Columbia e Harvard.
A porta de entrada para a política foi o serviço comunitário em Chicago e o trabalho como advogado de direitos civis. A militância o levaria ao Senado estadual e, depois, ao federal. Obama atribui sua atenção para problemas sociais ao período que passou em Jacarta, seu contato mais próximo com a pobreza.
John Sidney McCain, 72, filho e neto de almirantes, nasceu na Zona do Canal do Panamá, símbolo do imperialismo americano. Herói da Guerra do Vietnã, caiu prisioneiro em 1967. Recusou uma oferta de libertação, porque não incluía seus subordinados, e por isso amargou cinco anos e meio de cativeiro. Em 1982 elegeu-se deputado e depois chegou ao Senado, onde nem sempre acompanhou o conservadorismo republicano, como ao votar sobre imigração.
Ao longo da campanha eleitoral, entretanto, McCain enterrou tais veleidades. Apelou aos EUA profundos, tementes a Deus e ao terrorismo sobre todas as coisas, como única chance de derrotar a perturbadora mudança prometida por Obama. Passou a tachar o oponente de "socialista", secundado pela obscura governadora do Alasca que escolheu para vice.
Se McCain representa, ainda que a contragosto, a herança do governo Bush, Obama se encaixa a cada dia menos no figurino do candidato que corre por fora e atropela o establishment. A imprensa americana em peso, os cardeais do Partido Democrata (a começar pelos Clinton) e até republicanos célebres como o ex-secretário de Defesa Colin Powell se alinharam com ele.
As pesquisas, hoje, apontam para uma vitória democrata, triunfo esse que em seguida poderá até parecer fácil, favorecido como foi Obama pela crise financeira. Difícil será unir o país em torno de um projeto de mudança, em meio à recessão e ao desemprego que se espraiam.


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