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EUA na encruzilhada
Biografias e trajetórias de Barack Obama e John McCain personificam a antinomia que divide a nação norte-americana
OS ESTADOS UNIDOS chegam divididos à eleição
de seu 44º presidente.
O cisma profundo que
perpassa a sociedade americana
fica muito evidente nos mapas
com projeções de votação.
Estados azuis -pró-Obama,
candidato democrata- se concentram no nordeste, na Costa
Oeste e nos Grande Lagos, regiões mais abertas ao mundo e às
novas idéias. Os Estados vermelhos -pró-McCain, republicano- tendem a localizar-se no Sul
e no coração do Oeste, a parte
dos EUA voltada para si mesma e
suas tradições, marcadamente
religiosas.
A polarização não separa apenas adeptos e adversários do republicano George W. Bush, cuja
administração termina numa
violenta crise econômica, batendo recordes de impopularidade.
São duas mentalidades que se
opõem. O entrechoque de poderosas correntes subterrâneas
não permite excluir de todo uma
vitória de John McCain.
Já por suas biografias e trajetórias, os dois candidatos personificam a antinomia que divide os
EUA -e inquieta todas as nações
que aprenderam a respeitá-los.
Barack Hussein Obama, 47,
compõe uma síntese de cultuadas tradições americanas. Filho
de um casamento birracial incomum -pai queniano, mãe americana- que passou a infância e a
adolescência longe da América,
no Havaí e na Indonésia, Obama
galgou o topo da elite dos Estados Unidos pela escada do mérito, que o levou às universidades
Columbia e Harvard.
A porta de entrada para a política foi o serviço comunitário em
Chicago e o trabalho como advogado de direitos civis. A militância o levaria ao Senado estadual
e, depois, ao federal. Obama atribui sua atenção para problemas
sociais ao período que passou em
Jacarta, seu contato mais próximo com a pobreza.
John Sidney McCain, 72, filho
e neto de almirantes, nasceu na
Zona do Canal do Panamá, símbolo do imperialismo americano. Herói da Guerra do Vietnã,
caiu prisioneiro em 1967. Recusou uma oferta de libertação,
porque não incluía seus subordinados, e por isso amargou cinco
anos e meio de cativeiro. Em
1982 elegeu-se deputado e depois chegou ao Senado, onde
nem sempre acompanhou o conservadorismo republicano, como ao votar sobre imigração.
Ao longo da campanha eleitoral, entretanto, McCain enterrou
tais veleidades. Apelou aos EUA
profundos, tementes a Deus e ao
terrorismo sobre todas as coisas,
como única chance de derrotar a
perturbadora mudança prometida por Obama. Passou a tachar o
oponente de "socialista", secundado pela obscura governadora
do Alasca que escolheu para vice.
Se McCain representa, ainda
que a contragosto, a herança do
governo Bush, Obama se encaixa
a cada dia menos no figurino do
candidato que corre por fora e
atropela o establishment. A imprensa americana em peso, os
cardeais do Partido Democrata
(a começar pelos Clinton) e até
republicanos célebres como o
ex-secretário de Defesa Colin
Powell se alinharam com ele.
As pesquisas, hoje, apontam
para uma vitória democrata,
triunfo esse que em seguida poderá até parecer fácil, favorecido
como foi Obama pela crise financeira. Difícil será unir o país em
torno de um projeto de mudança, em meio à recessão e ao desemprego que se espraiam.
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