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Arapuca parlamentar
Câmara põe na pauta proposta de aumento real de aposentadorias que pode desequilibrar ainda mais a Previdência
COM ALIADOS como Michel Temer (PMDB-SP),
governo algum precisa
de inimigos. O presidente da Câmara dos Deputados, talvez tomado de entusiasmo com a
perspectiva de figurar na cédula
presidencial como vice de Dilma
Rousseff, incluiu na pauta de votações -com prioridade- um
projeto demolidor para as contas
públicas.
A proposta estende a 8,4 milhões de aposentados os aumentos reais do salário mínimo. Hoje, eles só beneficiam quem recebe o piso da Previdência.
Trata-se de uma entre várias
ideias de sabor populista em tramitação no Congresso. Outra é
acabar com o chamado fator previdenciário, sistema implantado
em 1999 que estimula a postergação da aposentadoria e, assim,
alivia o Tesouro. Já se calculou
que esse pacote de irresponsabilidade fiscal, se aprovado, acarretaria despesa anual adicional de
R$ 100 bilhões -a receita com
impostos teria de saltar 14% só
para cobrir essa conta.
Não são nulas as possibilidades
de que o projeto prospere na Câmara. Já passou no Senado, de
resto, por insistência de Paulo
Paim (PT-RS), que construiu
uma carreira parlamentar distribuindo afagos a aposentados e
petardos contra o equilíbrio fiscal. A menos de um ano das eleições, uma força gravitacional
compele deputados a endossarem matérias desse tipo.
Seria tolo negar que a política
atual de conceder aumentos
reais só para os menores benefícios achata os vencimentos de
muita gente. De 2000 a 2009, ganhos iguais ao salário mínimo
avançaram 242%, contra 100%
no caso dos que excedem esse piso -ou excediam, porque nessa
marcha mais e mais pensões acabam por igualar-se a ele.
Há muitas outras injustiças
por resolver no Brasil. Mas todas
precisam ser equacionadas no
Orçamento, que já exige demais
da sociedade, sob a forma de tributos. O deficit da Previdência,
vale lembrar, registrou valor recorde em setembro (R$ 9,17 bilhões) e já acumula R$ 39,12 bilhões em 2009 -perigosamente
perto da meta de R$ 41,4 bilhões
para o ano, quando faltavam três
meses para seu término.
O governo federal, temeroso
de ver a proposta Paim avançar
no Congresso, já negociava com
centrais sindicais alguma concessão aos aposentados. Falava-se em um aumento real de 1,5% a
2,5%. Mesmo esse percentual
mais modesto implicaria um gasto extra de até R$ 3 bilhões em
2010. A despesa nova deveria, no
mínimo, ser compensada com
um corte equivalente de gastos
federais em outras áreas.
Ao comprometer o conjunto
das contas públicas, uma série de
aumentos pontuais de gastos solapa a capacidade de crescimento da economia. Sobra menos para o governo investir em habitação, saneamento, estradas, ferrovias, portos e aeroportos. O
efeito sobre as empresas é semelhante: garroteadas pela tributação, têm dificuldade de ampliar a
capacidade de produzir e empregar -e se veem prejudicadas na
competição com produtos de
países que taxam menos.
Gastos públicos e benefícios
sociais não podem se expandir
tão depressa a ponto de comprometer a própria geração de riquezas no país.
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