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JOÃO SAYAD
Previdência: a sustentabilidade
DIZ-SE QUE ALGO é sustentável quando o que entra é
exatamente igual ao que sai.
Come, não engorda, nem emagrece; corta árvores e planta tantas
quanto cortou; pesca tantos peixes
quantos nascem.
Vivemos cada vez mais, por mais
tempo. Nossos tetranetos poderão
ser advogados até os cinqüenta
anos; médicos nos quarenta anos
seguintes; e morrer cercados pelo
carinho dos próprios tetranetos.
Muito bom, ou muito ruim se ficarem sozinhos, ranzinzas, surdos ou
esquecidos na mesma idade em
que ficamos hoje.
Até quando tantos velhos cada
vez mais velhos podem ser sustentados pelos jovens e adultos que estão trabalhando? A resposta é trivial: a Previdência é sustentável
sempre que a renda per capita estiver crescendo. Ou seja, sempre que
o trabalho dos aposentados não fizer falta. Se a condição não for
atendida, o problema é falta de
crescimento e não a Previdência.
Muitas coisas não são sustentáveis. A dívida pública com juro real
de 10%, maior do que o crescimento do produto (3%), não é sustentável. A cada ano que se passa nessa situação, transferimos 7% do produto de quem trabalha para quem recebe juros sem trabalhar, os capitalistas aposentados. Em 10
anos, precisaríamos usar todo o
PIB para pagar juros. Já passaram
quatro anos.
A Previdência é um problema no
mundo inteiro porque:
1) O número de aposentados
cresce mais do que o número de
trabalhadores.
2) Os salários dos ativos que financiam os inativos não crescem
tanto quanto a produtividade (o
ganho de produtividade gera mais
lucros do que salário real).
3) O emprego aumenta pouco
por causa das novas tecnologias.
4) A massa salarial (emprego vezes salários) não cresce tanto
quanto a despesa com os aposentados. E os lucros não querem financiar aposentadorias.
5) Não adianta aumentar a idade
da aposentadoria, pois faltam empregos. Se a idade de aposentadoria
for atrasada, aumenta o número de
trabalhadores no mercado, cai o salário e o problema se agrava.
No longo prazo, a solução é trabalhar menos e ganhar mais, ou seja, redistribuir os frutos de tantos
sucessos. Uma idéia para o futuro,
precisa tempo para vingar, se vingar. Enquanto isso, o mundo sofre
de fartura.
No Brasil, a Previdência não é
sustentável porque a renda per capita não cresce. O caso dos marajás
não explica o crescimento das despesas com a Previdência. Mas atrapalha, pois atrai populistas que
confundem a discussão. Para o
Brasil, a maior parte da solução virá do crescimento, uma idéia do
passado que não sabemos se vai
vingar.
jsayad@attglobal.net
JOÃO SAYAD escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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