|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES
Novo marco para o debate dos "S"
ARMANDO MONTEIRO NETO
É hora de dar à sociedade argumentos corretos para que forme opinião sobre o Sistema S. Há mitos que precisam ser destruídos
A MÍDIA tem sido veículo de debate intenso sobre o Sistema S.
O tema é recorrente e ressurge
estimulado por razões políticas e fatos conjunturais. São diferentes os
ângulos de abordagem. Ora se questionam a eficiência da gestão privada
e a liderança empresarial na formação de recursos humanos, ora se
aponta, de forma equivocada, a ausência de controle externo sobre as
instituições, forçando a imagem de
que somos "caixa preta". Fomos para
a berlinda, recentemente, pois, como
industriais, defendemos a redução da
CPMF. Em troca, pediram o corte da
arrecadação que mantém o sistema.
Quem ganha com debate tão enviesado? Certamente não os trabalhadores que formamos e que -em sua
grande maioria- saem empregados
dos cursos mantidos pelo sistema.
Julgamos que está na hora de dar à
sociedade argumentos corretos para
que forme opinião sobre os "S". Há
mitos que precisam ser destruídos.
Um deles é o de que não há controle
externo sobre o sistema. Na melhor
das hipóteses, essa afirmação revela
desconhecimento dos articulistas; na
pior, má-fé. O controle existe, é
abrangente e rigoroso. As entidades
são e sempre foram auditadas pela
Controladoria Geral da União e pelo
Tribunal de Contas da União. O Sistema Indústria, ao qual pertencem Senai e Sesi e que integra os "S", tem
suas contas na internet, permitindo
livre acesso aos dados de gestão.
Tampouco nos furtamos a discutir
o modelo de financiamento do Sistema S, cuja compulsoriedade é questionada. Somos a favor de sua continuidade -e por razão relevante: a capacitação é essencial para o desenvolvimento industrial e não pode ficar à
mercê de decisões individuais e do
humor dos ciclos econômicos ou políticos. O sistema privado de formação
profissional deve ser avaliado, mas de
forma rigorosa, à luz da realidade da
rede pública e do papel do Estado,
responsável pelas políticas na área da
educação.
Esse modelo não é singularidade
brasileira. Na Europa, apóia-se em
contribuições compulsórias das empresas, semelhante ao nosso formato.
No modelo ultraliberal americano, a
formação é feita basicamente por empresas de grande porte. Na malograda
experiência latino-americana, o sistema é estatizado e sofre descontinuidades geradas por instabilidades.
Quanto à falta de trabalhadores
qualificados em alguns setores da
economia, esse, sim, é um argumento
real e decorre da aceleração do crescimento nos últimos dois anos. Mas é
totalmente incorreto atribuir ao Sistema S a responsabilidade pelo descompasso. O Senai tem 65 anos de
história e contabilizou no período
43,2 milhões de matrículas. Respondeu, em 2006, por quase 50% das matrículas da educação profissional técnica de nível médio para a indústria e,
no ensino superior, predominantemente pela formação de tecnólogos.
Há que considerar, ainda, que o
percurso de evolução da indústria é
dinâmico e se altera no tempo. Em
seis décadas, os ciclos de expansão do
setor foram colocando novos desafios
à medida que se ampliou a complexidade da matriz industrial e houve
crescente incorporação de tecnologias que modificaram o perfil requerido para a força de trabalho.
A mobilidade do capital produtivo é
outro fator e cria demanda por escolaridade onde o sistema público exibe
infra-estrutura mais frágil.
A CNI (Confederação Nacional da
Indústria) já diagnosticou que o baixo
nível educacional é fator limitador do
crescimento sustentável. Em resposta, lançou o programa Educação para
a Nova Indústria, 2007-2010, arrojada iniciativa que ampliará em 30% as
matrículas dos cursos do Senai e do
Sesi, com recursos de R$ 10,5 bilhões
nesse quadriênio. A meta é atingir
16,2 milhões de matrículas, 7,1 milhões em educação básica e continuada (Sesi) e 9,1 milhões em educação
profissional (Senai). Docentes serão
formados, e os laboratórios, modernizados, como requer a nova indústria.
O Senai tem áreas de excelência reconhecidas internacionalmente e, como diz o economista Claudio de Moura Castro, sem a entidade, "a revolução industrial do Brasil não teria sido
possível". Na 39ª edição do WorldSkills Competition -maior competição mundial de educação profissional-, que acaba de ocorrer no Japão,
nossos alunos ficaram com o segundo
lugar entre 48 países, superados apenas pela Coréia do Sul. É um marco.
Esses argumentos certamente não
esgotam o assunto. Mas são elementos para a construção de um debate
mais substantivo sobre o Sistema S.
Temos a certeza de que a sociedade
precisa ser bem informada.
ARMANDO MONTEIRO NETO, 55, advogado, é presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria) e deputado federal pelo PTB-PE.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Hugo de Zela Martínez: Peru e Brasil: parceiros no desenvolvimento
Índice
|