São Paulo, sexta-feira, 04 de dezembro de 2009

Próximo Texto | Índice

O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.

Editoriais

editoriais@uol.com.br

Caixa de Pandora

Numa sequência de escândalos, partidos perdem condições de usar o tema da corrupção em suas campanhas

EM POLÍTICA, declarou o líder do DEM no Senado, "pode-se perder tudo, menos o discurso". O raciocínio do senador Ronaldo Caiado destinava-se a defender a pronta punição do seu correligionário José Roberto Arruda, envolvido num escândalo capaz de desautorizar todas as usuais estridências do DEM ao denunciar o amplo histórico de irregularidades do governo Lula.
A levar em conta esse tipo de consideração, seria o caso de observar que não resta, aos principais partidos políticos em jogo, nenhum discurso coerente diante dos espantosos flagrantes de irregularidade que ocupam o noticiário cotidiano.
O acusador de hoje pode vir a ser o acusado de amanhã; da noite para o dia o falso rigor se resolve em cinismo escancarado, e denúncias contra um adversário, à primeira vista convenientes, não tardam em trazer motivos para o desconforto próprio.
Graves e muito consistentes: assim o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, classificou as revelações que atingiram seu correligionário no Distrito Federal. Noticia-se, entretanto, que uma das empresas acusadas de participar no esquema de Arruda, a Uni Repro, firmara contrato de prestação de serviços para a prefeitura paulistana, posteriormente copiado no DF. A chamada "carona" na licitação impõe, no mínimo, que se investiguem em detalhe as relações da Uni Repro com a gestão paulistana.
Atingindo em cheio um partido de oposição, eis que o caso Arruda vem trazer incômodos ao projeto sucessório governista.
O presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, cogitado como nome do PMDB como vice de Dilma Rousseff, é citado num vídeo da Operação Caixa de Pandora, entre outros membros da cúpula do PMDB. O empresário Alcyr Collaço, filmado enquanto guardava dólares na cueca, aponta-os como beneficiários de uma propina mensal; Temer reage à menção, qualificando-a de "infâmia".
Outra operação da Polícia Federal, a Castelo de Areia, volta a citar Michel Temer. A construtora Camargo Corrêa é acusada de incluir seu nome numa lista de políticos que se beneficiaram de doações supostamente ilegais.
Também o PSDB paulista -com referências a Aloysio Nunes Ferreira, atual chefe da Casa Civil do governo Serra, e Walter Feldman, secretário de Esportes na mesma administração- vê-se acusado de receber quantias da construtora, entre 1996 e 1998. "São os primeiros sinais de um processo político que se avizinha", observou Feldman.
Não há como ter tanta certeza. Com PSDB, DEM, PMDB ou PT, é o mesmo processo, sempre, que se revela; e, no jogo sucessório para 2010, o mais plausível é que o tema da corrupção, como arma de campanha, não venha a beneficiar praticamente ninguém. Aos principais participantes, com efeito, "falta discurso" nesse tópico -se é que não irão tratar de inocentar-se mutuamente, dizendo-se todos vítimas de uma conspiração geral contra os homens de caráter.


Próximo Texto: Editoriais: Diplomacia incoerente

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.