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Caixa de Pandora
Numa sequência de escândalos, partidos perdem condições de usar o tema da corrupção em suas campanhas
EM POLÍTICA, declarou o líder do DEM no Senado,
"pode-se perder tudo,
menos o discurso". O raciocínio do senador Ronaldo
Caiado destinava-se a defender a
pronta punição do seu correligionário José Roberto Arruda,
envolvido num escândalo capaz
de desautorizar todas as usuais
estridências do DEM ao denunciar o amplo histórico de irregularidades do governo Lula.
A levar em conta esse tipo de
consideração, seria o caso de observar que não resta, aos principais partidos políticos em jogo,
nenhum discurso coerente diante dos espantosos flagrantes de
irregularidade que ocupam o noticiário cotidiano.
O acusador de hoje pode vir a
ser o acusado de amanhã; da noite para o dia o falso rigor se resolve em cinismo escancarado, e denúncias contra um adversário, à
primeira vista convenientes, não
tardam em trazer motivos para o
desconforto próprio.
Graves e muito consistentes:
assim o prefeito de São Paulo,
Gilberto Kassab, classificou as
revelações que atingiram seu
correligionário no Distrito Federal. Noticia-se, entretanto, que
uma das empresas acusadas de
participar no esquema de Arruda, a Uni Repro, firmara contrato
de prestação de serviços para a
prefeitura paulistana, posteriormente copiado no DF. A chamada "carona" na licitação impõe,
no mínimo, que se investiguem
em detalhe as relações da Uni
Repro com a gestão paulistana.
Atingindo em cheio um partido de oposição, eis que o caso Arruda vem trazer incômodos ao
projeto sucessório governista.
O presidente da Câmara dos
Deputados, Michel Temer, cogitado como nome do PMDB como
vice de Dilma Rousseff, é citado
num vídeo da Operação Caixa de
Pandora, entre outros membros
da cúpula do PMDB. O empresário Alcyr Collaço, filmado enquanto guardava dólares na cueca, aponta-os como beneficiários
de uma propina mensal; Temer
reage à menção, qualificando-a
de "infâmia".
Outra operação da Polícia Federal, a Castelo de Areia, volta a
citar Michel Temer. A construtora Camargo Corrêa é acusada de
incluir seu nome numa lista de
políticos que se beneficiaram de
doações supostamente ilegais.
Também o PSDB paulista
-com referências a Aloysio Nunes Ferreira, atual chefe da Casa
Civil do governo Serra, e Walter
Feldman, secretário de Esportes
na mesma administração- vê-se
acusado de receber quantias da
construtora, entre 1996 e 1998.
"São os primeiros sinais de um
processo político que se avizinha", observou Feldman.
Não há como ter tanta certeza.
Com PSDB, DEM, PMDB ou PT,
é o mesmo processo, sempre,
que se revela; e, no jogo sucessório para 2010, o mais plausível é
que o tema da corrupção, como
arma de campanha, não venha a
beneficiar praticamente ninguém. Aos principais participantes, com efeito, "falta discurso"
nesse tópico -se é que não irão
tratar de inocentar-se mutuamente, dizendo-se todos vítimas
de uma conspiração geral contra
os homens de caráter.
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