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Polícia contaminada
Para que a política de reconquista de territórios seja sustentável, é preciso dar condições materiais e morais às forças de segurança do Rio
Não seria necessário o apoio de
um estudo científico para afirmar
que a população brasileira vê com
restrições o desempenho das polícias. Uma pesquisa sobre o tema,
no entanto, foi realizada pelo Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada), órgão vinculado ao governo federal, que ouviu 2.770
pessoas em todo o país.
Cerca de 70% dos entrevistados
disseram que confiam pouco ou
não confiam nas polícias Civil e
Militar. O trabalho policial também é visto pela maioria como lento, ineficiente e desrespeitoso no
trato com os cidadãos.
Não é o caso de condenar em
bloco instituições que podem facilmente exibir uma folha de bons
serviços prestados à população.
Não é de hoje, porém, que essa visão negativa é compartilhada de
maneira difusa pela sociedade -e
tal imagem não surge do nada.
Especialistas em segurança parecem concordar que no Rio de Janeiro a situação chegou a limites
inauditos no que tange à corrupção, violência e ineficácia policiais. À sombra da incúria do Estado, consumou-se a associação entre o crime e setores da polícia,
que se alimentam e se protegem
mutuamente. Uma das explicações para esse fenômeno é o fato
de a criminalidade no Rio ter-se
organizado em regiões da cidade
sob domínio de seus agentes.
Não apenas o tráfico de drogas,
ao que consta em relativo declínio, controla territórios. O domínio também é exercido por meio
da venda ilícita de serviços, como
transporte, gás, luz e segurança,
por parte das milícias. Em suas fileiras, como é notório, militam policiais, e em seus círculos de relações encontram-se políticos e representantes do poder público.
Conveniências eleitorais, propinas e a exploração de atividades
ilegais prevalecem sobre o interesse público, permitindo que áreas
inteiras fiquem nas mãos do crime. Essa é a razão pela qual retomar territórios é meta primordial
da estratégia de segurança fluminense. É nesse contexto que se deve entender e apoiar as ações no
Complexo do Alemão.
Para prosseguir com essa política será preciso o concurso de forças preparadas para a tarefa, o
que requer não apenas treino,
equipamento e melhores salários,
mas a depuração das polícias. As
denúncias de roubo e maus-tratos
cometidos por policiais militares
na recente ocupação, já por si
alarmantes, são agravadas por
versões de que traficantes fugiram
da favela escoltados por quem deveria prendê-los.
Compelido, em razão dos ataques praticados por marginais, a
antecipar o que seria seu cronograma de ação, o governo do Estado parece depositar cada vez mais
suas esperanças na substituição
da polícia pelo Exército. Já se argumentou aqui sobre a inconveniência de expor, por tempo prolongado, a última linha de defesa
nacional aos riscos da corrupção
por organizações criminosas.
É preciso que as autoridades federais e estaduais criem alternativas. Às primeiras, cabe viabilizar a
Força Nacional de Segurança. Às
fluminenses, apresentar um plano para dar às polícias condições
materiais e morais para cumprir
seu dever. Não será convivendo
com malfeitos e transferindo o
problema para as Forças Armadas
que se alcançará a desejada pacificação do Rio de Janeiro.
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