São Paulo, quarta-feira, 05 de janeiro de 2005

Próximo Texto | Índice

AJUSTE EXTERNO

No início de 2004, nem a mais otimista das análises econômicas previa um aumento significativo do saldo comercial brasileiro ao longo do ano. Ao contrário, contava-se com um declínio, provavelmente causado pela elevação das importações, num quadro de recuperação da economia. A Associação Brasileira de Comércio Exterior chegou a quantificar a perda em 5,9%: o superávit passaria de US$ 24,831 bilhões em 2003 para US$ 23,370 bilhões em 2004. Findo o ano, os números não sancionam tais profecias.
A diferença entre exportações e importações foi de US$ 33,7 bilhões, valor que supera em 35,9% o saldo anterior. Trata-se de um ajuste de proporções inéditas, que representa uma mudança, senão estrutural, como insiste o governo, pelo menos consistente na economia brasileira. O desempenho comercial melhora a percepção de risco do país e mitiga as apreensões quanto à vulnerabilidade externa.
Num claro reflexo do processo de desvalorização do real, depois de um período de câmbio controlado, o Brasil veio a interromper em 2001, com um superávit de US$ 2,651 bilhões, uma série de seis anos de déficits comerciais. Além da essencial alteração da taxa de câmbio, outros fatores contribuíram para os bons resultados, como o baixo dinamismo do mercado interno, o crescimento mundial, o aumento das cotações de produtos primários e a forte ampliação do comércio global.
Agora, mais uma vez, prevê-se uma retração do saldo, em conseqüência da queda do preço de alguns produtos, como a soja, do incremento das importações e dos efeitos da queda do dólar. Ao que tudo indica, no entanto, o governo não está desatento à necessidade de manter saldos expressivos, embora pareça considerar possível "queimar gordura", aceitando transitoriamente um real mais valorizado -circunstância que favorece as importações, algumas necessárias ao crescimento econômico, como as de máquinas e equipamentos, e auxilia o Banco Central na tentativa de cumprir as metas de inflação.
Por certo que há riscos nessa estratégia -mas, para saber até que pontos eles tendem a se concretizar, será preciso aguardar os indicadores econômicos dos próximos meses.


Próximo Texto: Editoriais: REFORMA PÍFIA
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.