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AJUSTE EXTERNO
No início de 2004, nem a mais
otimista das análises econômicas previa um aumento significativo do saldo comercial brasileiro ao
longo do ano. Ao contrário, contava-se com um declínio, provavelmente
causado pela elevação das importações, num quadro de recuperação da
economia. A Associação Brasileira
de Comércio Exterior chegou a
quantificar a perda em 5,9%: o superávit passaria de US$ 24,831 bilhões
em 2003 para US$ 23,370 bilhões em
2004. Findo o ano, os números não
sancionam tais profecias.
A diferença entre exportações e importações foi de US$ 33,7 bilhões, valor que supera em 35,9% o saldo anterior. Trata-se de um ajuste de proporções inéditas, que representa
uma mudança, senão estrutural, como insiste o governo, pelo menos
consistente na economia brasileira.
O desempenho comercial melhora a
percepção de risco do país e mitiga
as apreensões quanto à vulnerabilidade externa.
Num claro reflexo do processo de
desvalorização do real, depois de um
período de câmbio controlado, o
Brasil veio a interromper em 2001,
com um superávit de US$ 2,651 bilhões, uma série de seis anos de déficits comerciais. Além da essencial alteração da taxa de câmbio, outros fatores contribuíram para os bons resultados, como o baixo dinamismo
do mercado interno, o crescimento
mundial, o aumento das cotações de
produtos primários e a forte ampliação do comércio global.
Agora, mais uma vez, prevê-se uma
retração do saldo, em conseqüência
da queda do preço de alguns produtos, como a soja, do incremento das
importações e dos efeitos da queda
do dólar. Ao que tudo indica, no entanto, o governo não está desatento à
necessidade de manter saldos expressivos, embora pareça considerar
possível "queimar gordura", aceitando transitoriamente um real mais valorizado -circunstância que favorece as importações, algumas necessárias ao crescimento econômico, como as de máquinas e equipamentos,
e auxilia o Banco Central na tentativa
de cumprir as metas de inflação.
Por certo que há riscos nessa estratégia -mas, para saber até que pontos eles tendem a se concretizar, será
preciso aguardar os indicadores econômicos dos próximos meses.
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