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MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Masp estatal
FURTOS de obras de arte não
acontecem apenas em museus cercados de precariedades, como o Masp. Não é, portanto,
"apenas" o sumiço das telas de Picasso e Portinari que justifica uma
discussão acerca dos destinos do
museu paulista.
O patético episódio, no entanto,
não deixa de oferecer uma oportunidade para intensificar um debate
que se trava aqui e ali, sem que nada de concreto aconteça. Circula
pela internet um abaixo-assinado
que sugere uma mudança radical
do estatuto do museu. A proposta
já foi firmada por nomes relevantes do meio artístico e intelectual.
O texto começa por constatar o
fato de o Masp ser, há tempos, uma
"instituição enferma, sem recursos
e sem direção profissional".
Tal situação é atribuída ao arranjo institucional em que se inscreve
o museu: "O problema a ser atacado de frente é de ordem institucional, pois, deste ponto de vista, o
Masp é uma aberração: não sendo
uma fundação, não dispõe de dotação original; não sendo, por outro
lado, um museu do Estado, não é
amparado por lei orçamentária. O
mais importante museu de arte do
hemisfério Sul é uma sociedade civil de direito privado, constituída
por algumas dezenas de associados
que não contribuem para a manutenção de sua associação".
Considerando que o patrimônio
foi formado também "por um aporte oriundo da Caixa Econômica Federal, vale dizer, do Estado brasileiro", e que a sociedade em questão não parece reunir condições
para arregimentar os recursos exigidos, os signatários consideram
necessária uma "intervenção dos
poderes públicos" que venha a colocar o Masp em sua esfera. A favor
da idéia, o texto lembra casos de sucesso da gestão pública da cultura
em São Paulo, como a Pinacoteca
do Estado, a Osesp e o Museu da
Língua Portuguesa. A senha para a
mudança seria a previsão de que o
prédio projetado por Lina Bardi
passará à prefeitura em 12 de novembro deste ano.
A proposta soa como uma tentativa desesperada -o que é compreensível- de encerrar um ciclo
de decadência. É um sinal de que a
sociedade culta de São Paulo já não
suporta a indigência do museu. É
difícil discordar do diagnóstico,
mas é também difícil imaginar como essa intervenção poderia ser
realizada. Talvez Evo Morales pudesse dar uma ajuda. Na realidade,
seria preciso a falência ou um gesto
da sociedade que administra o
Masp -o que é difícil acontecer.
Parece sensato imaginar que o
museu deveria se inscrever num
regime público-privado que assegurasse os meios necessários não
apenas à sua preservação mas ao
seu desenvolvimento. A continuar
a ser gerido como nos últimos
anos, o Masp, que poderia e deveria
ser uma instituição de ponta, provavelmente prosseguirá em seu
melancólico declínio.
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES é editor da
Ilustrada.
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