|
Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
A invasão de Gaza
Tentativa do governo
de Israel de destronar
o Hamas à força tem eficácia incerta e custos humanos intoleráveis
A CRISE humanitária na
faixa de Gaza, deflagrada pela reação brutal
das Forças de Defesa
de Israel a ataques com foguetes
feitos pela milícia extremista
Hamas, só vai piorar com a ofensiva terrestre sobre o pequeno e
populoso território palestino.
A invasão israelense, iniciada
na noite de sábado, intensifica o
ambiente de privações e ameaças à integridade física em que
vivem os habitantes de Gaza.
Além dos intensos bombardeios
aéreos, que mataram mais de
450 palestinos -entre eles várias mulheres e crianças-, faltam víveres e medicamentos, e
os cortes no fornecimento de
água e luz são constantes.
Ao que consta, pois Israel impede a entrada da imprensa no
território invadido, o objetivo
inicial da ação terrestre é isolar o
norte da faixa litorânea, de onde
parte a maioria dos ataques com
foguetes contra o sul israelense,
do restante do território palestino. A cidade de Gaza, com mais
de 400 mil habitantes, foi sitiada.
Além dos intoleráveis danos,
humanos e materiais, que impõe
aos palestinos, o estrangulamento militar desfechado por Israel
está repleto de incertezas quanto
à sua eficácia. O Hamas, com sua
odiosa plataforma que prega o
aniquilamento da nação vizinha,
não é um movimento adventício,
artificial, em Gaza.
O grupo fundamentalista, com
ramificações assistenciais e religiosas, criou raízes e tornou-se
popular na faixa de Gaza -essa
capilaridade, aliás, torna difícil
atingir alvos militares sem matar
civis. O Hamas venceu as eleições parlamentares palestinas
de 2006 e, mais tarde, expulsou
de Gaza o Fatah, o partido secular de Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional
Palestina (ANP).
Facilitaram a ascensão do extremismo em Gaza a incompetência corrupta do governo do
Fatah, o cruel bloqueio à circulação de bens e pessoas imposto
por Israel e a opção, tomada por
EUA e União Europeia, de ignorar diplomaticamente o Hamas e
fortalecer a ANP.
A pressão externa pela mudança do regime em Gaza falhou
porque, como frequentemente
ocorre com atitudes do gênero,
pretendeu atropelar a legitimidade do Hamas aos olhos da população da faixa de Gaza.
A tentativa de destronar o movimento "manu militari" é uma
opção ainda mais arriscada. Pode
demandar nova ocupação prolongada do território, com custos
humanos e políticos conhecidos
e benefícios incertos.
A chegada ao Oriente Médio,
hoje, do presidente da França,
Nicolas Sarkozy, é uma nova
oportunidade para que a via diplomática seja reativada. É preciso reengajar as lideranças palestinas, em Gaza e na Cisjordânia, num programa de distensão
com Israel, processo que deve
ser iniciado pela suspensão imediata das hostilidades entre o
Hamas e os israelenses -bem
como pela retirada das tropas invasoras do território palestino.
Próximo Texto: Editoriais: Os recursos se esgotam Índice
|