São Paulo, segunda-feira, 05 de janeiro de 2009

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Editoriais

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A invasão de Gaza

Tentativa do governo de Israel de destronar o Hamas à força tem eficácia incerta e custos humanos intoleráveis

A CRISE humanitária na faixa de Gaza, deflagrada pela reação brutal das Forças de Defesa de Israel a ataques com foguetes feitos pela milícia extremista Hamas, só vai piorar com a ofensiva terrestre sobre o pequeno e populoso território palestino.
A invasão israelense, iniciada na noite de sábado, intensifica o ambiente de privações e ameaças à integridade física em que vivem os habitantes de Gaza. Além dos intensos bombardeios aéreos, que mataram mais de 450 palestinos -entre eles várias mulheres e crianças-, faltam víveres e medicamentos, e os cortes no fornecimento de água e luz são constantes.
Ao que consta, pois Israel impede a entrada da imprensa no território invadido, o objetivo inicial da ação terrestre é isolar o norte da faixa litorânea, de onde parte a maioria dos ataques com foguetes contra o sul israelense, do restante do território palestino. A cidade de Gaza, com mais de 400 mil habitantes, foi sitiada.
Além dos intoleráveis danos, humanos e materiais, que impõe aos palestinos, o estrangulamento militar desfechado por Israel está repleto de incertezas quanto à sua eficácia. O Hamas, com sua odiosa plataforma que prega o aniquilamento da nação vizinha, não é um movimento adventício, artificial, em Gaza.
O grupo fundamentalista, com ramificações assistenciais e religiosas, criou raízes e tornou-se popular na faixa de Gaza -essa capilaridade, aliás, torna difícil atingir alvos militares sem matar civis. O Hamas venceu as eleições parlamentares palestinas de 2006 e, mais tarde, expulsou de Gaza o Fatah, o partido secular de Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP).
Facilitaram a ascensão do extremismo em Gaza a incompetência corrupta do governo do Fatah, o cruel bloqueio à circulação de bens e pessoas imposto por Israel e a opção, tomada por EUA e União Europeia, de ignorar diplomaticamente o Hamas e fortalecer a ANP.
A pressão externa pela mudança do regime em Gaza falhou porque, como frequentemente ocorre com atitudes do gênero, pretendeu atropelar a legitimidade do Hamas aos olhos da população da faixa de Gaza.
A tentativa de destronar o movimento "manu militari" é uma opção ainda mais arriscada. Pode demandar nova ocupação prolongada do território, com custos humanos e políticos conhecidos e benefícios incertos.
A chegada ao Oriente Médio, hoje, do presidente da França, Nicolas Sarkozy, é uma nova oportunidade para que a via diplomática seja reativada. É preciso reengajar as lideranças palestinas, em Gaza e na Cisjordânia, num programa de distensão com Israel, processo que deve ser iniciado pela suspensão imediata das hostilidades entre o Hamas e os israelenses -bem como pela retirada das tropas invasoras do território palestino.


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