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VAGUINALDO MARINHEIRO
A volta do medo e das teses bobas
SÃO PAULO - O dia de Natal de
2009 trouxe um presente inconveniente para o chamado mundo ocidental: a volta do medo. Naquele
dia, o nigeriano Umar Farouk Abdulmutallab tentou explodir um
avião que saíra de Amsterdã com destino a Detroit, nos EUA.
Por razões ainda inexplicadas (e muita, muita sorte), o atentado não
fez nenhuma vítima. Mas um dos
objetivos foi alcançado: matar a ilusão de que vivíamos num mundo
mais seguro após o fim da era Bush.
Algumas companhias áreas até já
haviam reintroduzido os talheres
de metal, banidos no pós-11 de Setembro, e muitos voltaram a planejar férias sem incluir o risco-bomba
na hora de decidir o local da viagem.
Isso tudo foi por terra. Voltam os
controles rígidos nos aeroportos e a
paranoia que enxerga bombas em malas ou carros abandonados e terroristas em qualquer um que circule por pontos de grande concentração de pessoas.
Junto com o medo, reaparecem
as teses sobre as razões do terrorismo. Alguns jornalistas e pensadores mais à esquerda acreditam que a
ameaça só terá fim quando a prosperidade dos países desenvolvidos se espalhar pelo resto do mundo.
Creem que, se houver alternativa
entre subir na vida (ter dinheiro) e
subir aos céus com um ato "heroico", jovens recrutados pela Al Qaeda vão preferir a primeira opção.
Para reforçar a tese, usam as estatísticas do Iêmen, suposta nova base da Al Qaeda e onde Umar esteve
antes do atentado. O país tem taxa
de desemprego de 35%, sofre com
escassez de água, e 45% da população, de 23 milhões de habitantes, está abaixo da linha de pobreza.
Mas como explicar Umar, que é filho de banqueiro? E Bin Laden, que é de família milionária?
Além dos furos óbvios, essa tese
carrega o preconceito de acreditar
que todo pobre é um terrorista em
potencial quando, na verdade, talvez sejam esse e outros preconceitos os reais motores do terrorismo.
vmarinheiro@uol.com.br
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