São Paulo, terça-feira, 05 de janeiro de 2010

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VAGUINALDO MARINHEIRO

A volta do medo e das teses bobas

SÃO PAULO - O dia de Natal de 2009 trouxe um presente inconveniente para o chamado mundo ocidental: a volta do medo. Naquele dia, o nigeriano Umar Farouk Abdulmutallab tentou explodir um avião que saíra de Amsterdã com destino a Detroit, nos EUA.
Por razões ainda inexplicadas (e muita, muita sorte), o atentado não fez nenhuma vítima. Mas um dos objetivos foi alcançado: matar a ilusão de que vivíamos num mundo mais seguro após o fim da era Bush.
Algumas companhias áreas até já haviam reintroduzido os talheres de metal, banidos no pós-11 de Setembro, e muitos voltaram a planejar férias sem incluir o risco-bomba na hora de decidir o local da viagem.
Isso tudo foi por terra. Voltam os controles rígidos nos aeroportos e a paranoia que enxerga bombas em malas ou carros abandonados e terroristas em qualquer um que circule por pontos de grande concentração de pessoas.
Junto com o medo, reaparecem as teses sobre as razões do terrorismo. Alguns jornalistas e pensadores mais à esquerda acreditam que a ameaça só terá fim quando a prosperidade dos países desenvolvidos se espalhar pelo resto do mundo.
Creem que, se houver alternativa entre subir na vida (ter dinheiro) e subir aos céus com um ato "heroico", jovens recrutados pela Al Qaeda vão preferir a primeira opção. Para reforçar a tese, usam as estatísticas do Iêmen, suposta nova base da Al Qaeda e onde Umar esteve antes do atentado. O país tem taxa de desemprego de 35%, sofre com escassez de água, e 45% da população, de 23 milhões de habitantes, está abaixo da linha de pobreza.
Mas como explicar Umar, que é filho de banqueiro? E Bin Laden, que é de família milionária?
Além dos furos óbvios, essa tese carrega o preconceito de acreditar que todo pobre é um terrorista em potencial quando, na verdade, talvez sejam esse e outros preconceitos os reais motores do terrorismo.

vmarinheiro@uol.com.br


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