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CAI O PANO
Para muitos artistas, a crítica especializada é um estorvo. Raros são os
críticos que conseguem, sem favor
nem adulação, granjear o respeito
dos criticados. É mais raro ainda que
um crítico venha a se confundir com
os valores mais altos da própria arte a
que dedicou seus esforços. Esse foi o
caso de Décio de Almeida Prado, que
o teatro brasileiro perdeu anteontem.
Interessado pela arte teatral desde a
juventude, quando chegou a atuar em
grupos amadores, o intelectual paulistano exerceu múltiplas atividades
-jornalista, crítico, ensaísta, professor universitário, historiador- que
se desdobraram ao longo de um período que cobre meio século.
Um teatro provinciano, sem pretensões que não meramente comerciais, calcado na figura de um só ator
"clownesco" foi substituído, nesse
tempo, por uma atividade profissional, moderna e que buscava aproximar-se dos padrões do melhor teatro
internacional. Décio de Almeida Prado foi a figura-chave dessa transição
que veio culminar na grande explosão política e criativa do teatro brasileiro nos anos 60, ao fim dos quais,
sintomaticamente, ele abandonou a
crítica cotidiana.
Sob inspiração do crítico, o palco
brasileiro adaptou grandes autores
da dramaturgia contemporânea, incorporou a temática nacional sob ângulos problemáticos e projetou uma
geração de artistas empenhados em
fazer um teatro vivo, coloquial, inquieto e inquietante.
Almeida Prado fez parte da geração
que modernizou o ensaísmo no Brasil, marcada pelo humanismo de
suas posições, pela escrita impecável
e rigorosa, pela elegância quase aristocrática da atitude. Que seu legado
possa frutificar em meio à vulgaridade cultural de nossos dias, dando nova força a um teatro que já conheceu
melhor época.
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