São Paulo, #!L#Sábado, 05 de Fevereiro de 2000


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CAI O PANO

Para muitos artistas, a crítica especializada é um estorvo. Raros são os críticos que conseguem, sem favor nem adulação, granjear o respeito dos criticados. É mais raro ainda que um crítico venha a se confundir com os valores mais altos da própria arte a que dedicou seus esforços. Esse foi o caso de Décio de Almeida Prado, que o teatro brasileiro perdeu anteontem.
Interessado pela arte teatral desde a juventude, quando chegou a atuar em grupos amadores, o intelectual paulistano exerceu múltiplas atividades -jornalista, crítico, ensaísta, professor universitário, historiador- que se desdobraram ao longo de um período que cobre meio século.
Um teatro provinciano, sem pretensões que não meramente comerciais, calcado na figura de um só ator "clownesco" foi substituído, nesse tempo, por uma atividade profissional, moderna e que buscava aproximar-se dos padrões do melhor teatro internacional. Décio de Almeida Prado foi a figura-chave dessa transição que veio culminar na grande explosão política e criativa do teatro brasileiro nos anos 60, ao fim dos quais, sintomaticamente, ele abandonou a crítica cotidiana.
Sob inspiração do crítico, o palco brasileiro adaptou grandes autores da dramaturgia contemporânea, incorporou a temática nacional sob ângulos problemáticos e projetou uma geração de artistas empenhados em fazer um teatro vivo, coloquial, inquieto e inquietante.
Almeida Prado fez parte da geração que modernizou o ensaísmo no Brasil, marcada pelo humanismo de suas posições, pela escrita impecável e rigorosa, pela elegância quase aristocrática da atitude. Que seu legado possa frutificar em meio à vulgaridade cultural de nossos dias, dando nova força a um teatro que já conheceu melhor época.


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