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Por que eles podem?
CLÓVIS ROSSI
Seul - Na primeira vez em que estive
na Coréia, em 1996 (antes da crise,
portanto), meu passatempo favorito
era conferir quantos carros não-coreanos conseguia ver nas ruas.
Deu um só, um Volvo sueco.
Aí, veio a crise e toda a conversa em
torno da necessidade de a Coréia abrir
seus mercados, inclusive o automobilístico, fazer reformas etc. e tal.
Volto agora e repito meu exercício
visual. O resultado é o mesmo: só há, a
rigor, veículos coreanos circulando pelas ruas de Seul. É claro que deve haver
modelos estrangeiros também, mas
são tão poucos que desaparecem ante
a massa de Hyundais, Daewoos e
Kias, os três grandes produtores locais.
É bom notar que, no Brasil, quando
se fala de "carro nacional", está se falando de multinacionais como a
Volkswagen alemã, a Fiat italiana ou
a GM e a Ford norte-americanas, para
citar apenas as mais notórias.
Na Coréia, não. As três grandes marcas são autenticamente nacionais.
Mas são também autênticas multinacionais, que conseguiram presença
pelo menos razoável nos mercados externos. Mesmo uma empresa com notórias e públicas dificuldades econômicas, o grupo Daewoo, com dívidas
que chegam a US$ 100 bilhões, conseguiu em janeiro colocar 54.356 unidades com seu logotipo nos mercados externos, 204% mais que em janeiro do
ano passado.
O que leva a crer que parte do segredo do chamado "milagre asiático"
(que, depois da crise de 97/98, está começando a voltar à moda) ampara-se
numa sábia receita.
A idéia era proteger as empresas locais, com uma forte reserva de mercado, desde que elas, enquanto isso, se
tornassem internacionalmente competitivas. Parece óbvio que, pelo menos no setor automotivo, funcionou,
tanto que as firmas coreanas dominam seu mercado, mas também conseguem competir externamente.
No Brasil, perdeu-se o bonde no setor automotivo. Mas será que a idéia
não vale para outros setores também?
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