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CARLOS HEITOR CONY
O triste fim das idéias
RIO DE JANEIRO - Seria ótimo considerar a luta ideológica uma simples
perda de tempo. No fundo, ela se resume exatamente a isso, a uma perda
de tempo, mas inclui outras coisas,
como a perda de vidas, de dinheiro e
prazer.
Para ficar apenas com o meu umbigo, relembro amigos e companheiros
ceifados física e moralmente nas engrenagens do conflito que marcou todo o século passado, com duas guerras mundiais e uma guerra fria que
ainda dura, no velho combate entre
as forças do bem e do mal.
Durante anos, o comunismo foi a
encarnação do mal para uma parte
considerável da humanidade. E o capitalismo continua demonizado sob
os disfarces que sempre usou para
continuar na dele, ou seja, lucrando
onde pode e mesmo onde não pode
nem deve.
Outro dia, recebi um e-mail apocalíptico, de um general da reserva, que
me honrou com a classificação de
"comunista de carteirinha". O motivo da carta foi a nomeação do Aldo
Rebelo para o ministério. Segundo o
general, é o início da escalada.
Cultivo a incivilidade de não responder a cartas ou e-mails, mesmo
assim tranqüilizei o general. Não conheço o novo ministro, não aprovo
todas as suas idéias, mas sempre ouvi
dizer que é um homem correto e bom.
Foi para o ministério porque é justamente isso, um homem correto e
bom. Daria no mesmo se, em vez de
comunista, fosse positivista, testemunha de Jeová ou filatelista.
Em linhas gerais, ele me parece
uma versão bem-sucedida do Policarpo Quaresma, que desejava substituir a língua portuguesa falada no
Brasil pelo tupi-guarani. E com todas
as decorrências de um nacionalismo
simpático, mas radical, além de extravagante.
Teve um triste fim o Policarpo Quaresma. Faço votos para que o Aldo tenha melhor sorte. Recomendei ao general a leitura do romance de Lima
Barreto. Viver ou morrer por uma
idéia é decoroso, mas inútil.
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