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CARLOS HEITOR CONY
A coroa e a pizza
RIO DE JANEIRO - Nelson Jobim garantiu que foi técnica a sua decisão
sobre a quebra do sigilo de um cidadão que teria emprestado dinheiro
(pouco é verdade) ao cidadão Luiz
Ignácio Lula da Silva, atual presidente da República e candidato à Presidência da mesmíssima República na
próxima eleição presidencial.
Tudo bem, nos conformes da Justiça e da moral. Um juiz julga de acordo com a sua formação jurídica. No
caso de um ministro do Supremo Tribunal Federal, julga em instância suprema, definitiva, sem direito a qualquer apelação.
Evidente que a sua decisão provocou uma onda de críticas generalizadas e até de suspeitas, que, pessoalmente, acho despropositadas. Não tenho (e pouca gente tem) equipamento técnico para julgar aquilo que juízes e advogados costumam chamar
de "feito". Dou de barato que a sua
decisão foi tecnicamente correta e
justa.
Mas não acho correta a sua reclamação de que estaria sendo "patrulhado". Pelo fato de não estar agradando a consideráveis parcelas da
nação, não significa que seja vítima
de qualquer tipo de perseguição ou
preconceito.
Além da toga a que tem direito, pelo menos até a data de sua renúncia
ou aposentadoria, ele está colocando
na cabeça, de moto próprio, a coroa
do martírio. Também de moto próprio (talvez o ministro nem tenha
moto, dessas usadas pelos entregadores de pizza), ele se declara e funciona
como pré-candidato na sucessão de
Lula, direito que também lhe assiste,
como a qualquer cidadão em gozo de
seus direitos políticos.
Tem serviços prestados não apenas
à nação, mas, especificamente, a partidos, de um dos quais foi indicado
para o Supremo. Não há qualquer
patrulhamento em salientar ou criticar a sua posição, tomada um pouco
antecipadamente. Damos de barato
que seja um bom nome para ser levado em consideração pela classe política e, posteriormente, pelo eleitorado.
Dizem que quem come depressa come cru. Nem mesmo uma pizza se come crua.
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