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Editoriais
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Encastelados
Num sinal de que a impunidade alimentou a empáfia, corregedor da Câmara quer acabar com cassações de deputados
EM DISCURSOS e declarações parlamentares, deputados e senadores se
comprazem em apresentar o Congresso como a Casa do
Povo. Na prática, porém, se afastam cada vez mais dessa imagem.
As eleições para compor as
Mesas das duas Casas deram sequência a um ciclo de reabilitações que renova o desprezo para
com a expectativa popular de
uma conduta minimamente
aceitável da parte de seus representantes. Nada de novo sob o
sol do Planalto.
No Senado, desfilam e ostentam poder reconquistado personagens como Renan Calheiros
(PMDB-AL) e Fernando Collor
(PTB-AL). Na Câmara, ressuscitam outros espectros. Só os incautos acreditavam-nos sepultados por sucessivas CPIs a prometer "ética na política", ainda que
a pantomima por vezes escape
do roteiro original e produza resultados de fato.
Dramas históricos e fábulas
morais não são o forte da Corregedoria Geral da Câmara, por
certo. Tome-se o novo corregedor, deputado Edmar Moreira
(DEM). Sua inclinação pela mítica inflexibilidade ética dos cavaleiros andantes parece restrita
ao Castelo Monalisa, o simulacro
de edificação medieval com 36
suítes que tenta vender por US$
25 milhões em São João Nepomuceno (MG).
Com a brutalidade de um aríete e muita desfaçatez, Moreira
propôs, no seu primeiro dia na
função, que a Corregedoria renuncie a corrigir.
O deputado, que responde a inquérito no Supremo Tribunal
Federal sob acusações de crime
contra o patrimônio e apropriação indébita previdenciária, tem
experiência, por assim dizer, no
assunto. Já integrou o Conselho
de Ética da Câmara e renunciou
à vaga, após derrota de seu relatório inocentando o companheiro José Mentor (PT-SP). Moreira quer que o julgamento de deputados deixe de ser feito na Casa e que a Corregedoria, quando
constatar a pertinência de denúncias contra parlamentares,
as encaminhe à Justiça.
Para o corregedor, deputados
não têm poder de polícia. Seu
"espírito de corpo" e a "fraternidade entre os colegas" lhes retirariam a condição de fazer julgamentos isentos sobre quebra de
decoro -enfim um momento de
veracidade, ainda que a serviço
de argumentação cavilosa.
Sua proposta apenas institucionalizaria a omissão parlamentar, desobrigando a Câmara
de zelar pela conduta de seus integrantes. Além do mais, equivale a uma nova e voluntária servidão do Legislativo a um Poder
externo, o Judiciário.
Manifestações como a de Edmar Moreira decorrem diretamente do festival de absolvições
de deputados na esteira do escândalo do mensalão. A impunidade alimentou a empáfia de políticos que, encastelados em Brasília, nem mais fingem respeitar
a opinião pública.
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