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CARLOS HEITOR CONY
A água é nossa
RIO DE JANEIRO - Não me dei ao
respeito de acompanhar com a devida atenção os dois fóruns realizados simultaneamente -um na Suíça, outro no Pará. E olha que não tinha nada de importante para fazer
ou pensar. Esnobei as duas assembleias por considerá-las inúteis,
ou, na melhor das hipóteses, redundantes.
Mesmo assim, graças ao controle
remoto, peguei sem querer o encerramento da turma de Belém, um
sujeito lendo um documento que
me pareceu a ata final da reunião
-tanta gente reunida e de tantos
países, certamente produziu outras
atas, que, somadas e analisadas, denunciam o que deve ser denunciado
e exigem o que deve ser exigido.
Após considerações gerais e protestos de continuar a luta, o texto entrou nos finalmentes. Foram lidas
as exigências fundamentais, que me
pareceram três, todas iniciadas
com o indefectível "exigimos".
Umas pelas outras, exigiam medidas para a preservação do meio
ambiente, sobretudo da água que
faltará ao planeta se não forem tomadas as providências sugeridas. A
água é nossa. Temos a maior bacia
de água doce do mundo, e a ganância dos negocistas internacionais
insistem nos atentados ecológicos,
principalmente na construção de
hidrelétricas que inundam cidades
e florestas, agridem a flora e a fauna
de espécies raras etc. etc.
Honestamente, por mais que me
esforce, não tenho opinião sobre isso, sobre a investida do licencioso
progresso contra a virgindade da
natureza. No final do século 19, os
plantadores de cana do norte fluminense quiseram impedir a colocação dos trilhos da Estrada de Ferro
Dom Pedro 2º, futura Central do
Brasil. O argumento era poderoso:
as fagulhas que saíam das marias-fumaças causavam incêndios nos
canaviais -e, naquele tempo, a cana só servia para fazer açúcar, rapadura e cachaça.
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