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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Educação sentimental
SÃO PAULO - O programa do PV,
exibido ontem à noite em rede nacional de TV, marcou a estreia de
Marina Silva como candidata à Presidência. O grande público pôde vê-la pela primeira vez neste ano. Ao final de 10 minutos, fica-se com a
sensação de que o PT teria com o
que se preocupar se as condições da
disputa não fossem tão desiguais.
O que fez o PV? Um programa em
grande parte dedicado à importância estratégica da educação. Mas associou a defesa dessa bandeira à
biografia da sua candidata, de tal
forma que as coisas se confundissem num enredo comum. Marina
aparece na tela como a melhor personagem da sua mensagem.
A identificação e o contraponto
com Lula não poderiam ser mais
cristalinos. Nascida no interior do
Acre, negra, pobre, analfabeta até
os 16 anos, Marina também é uma
legitima "filha do Brasil".
Mas, contra todas as adversidades, depois de ter sido humilhada
pela professora diante dos colegas
no primeiro dia de aula, reuniu forças para se alfabetizar: "A minha
vontade de aprender era tamanha
que em 15 dias eu já estava alfabetizada". Concluiu o supletivo, passou
no vestibular, cursou história e se
especializou em psicopedagogia.
"Tudo o que aconteceu na minha
vida foi graças à oportunidade que
tive de estudar, ainda que tardiamente", diz, orgulhosa. É como se
dissesse: Lula nos trouxe até aqui,
para dar o próximo passo é preciso
estudar -apresentando-se, ela própria, como o espelho do futuro.
Merece atenção a referência elogiosa que Marina faz a Lula e a
FHC, de maneira equânime. Ao
mesmo tempo em que se coloca como herdeira dos dois, ela vocaliza a
ideia de que representa uma ruptura. Sem se definir, o programa oscila habilmente entre mensagens de
continuidade e mudança, evolução
e revolução, passado e futuro.
Ouvimos de Marina expressões
como "virada histórica", "grande
transformação", "nova consciência" e "utopia". Mas ninguém precisa ter medo. A fala mansa está ali
para nos sugerir que ela é só um Lula que estudou até o fim, direitinho.
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