São Paulo, quarta, 5 de março de 1997.

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O ``FMI'' do Brasil



Não basta trazer para cá o mundo se não houver o consumidor. Por isso, é preciso gerar empregos e distribuir a renda
EMERSON KAPAZ
O Brasil precisa urgentemente implementar seu ``FMI''. No caso, trata-se do Fortalecimento do Mercado Interno. Essa medida é fundamental para alavancar o desenvolvimento sustentado.
A razão é simples. No contexto da globalização, podemos importar tudo: automóveis, máquinas, tecnologia, alimentos, produtos de consumo. Só não podemos importar uma coisa: mercado. Daí a necessidade do nosso ``FMI''.
Não basta trazer para cá o mundo se não houver o consumidor. Por isso, é preciso gerar empregos e distribuir melhor a renda. O que somente será possível se dois requisitos forem preenchidos.
O primeiro é a estabilidade econômica, sem a qual o mercado interno jamais se fortalece. Felizmente, a estabilidade está praticamente assegurada.
O segundo requisito é que o ritmo da abertura econômica seja gradual e não abrupto. Abertura escancarada, como ocorreu antes da implementação do Real, só fragiliza desnecessariamente diversos setores da economia, diminui a capacidade de geração de empregos e enfraquece o mercado interno.
Nesse sentido, está correta a decisão da Secretaria de Política Econômica e do Ministério da Indústria e do Comércio de estimular 15 setores de atividade econômica a se fortalecerem para enfrentar melhor o processo de globalização.
Da mesma forma, estão corretas as políticas estaduais que definem regiões de desenvolvimento e estimulam o investimento por parte da iniciativa privada. Isso é significativamente melhor para o amadurecimento do mercado do que conceder benesses fiscais que só levarão à perda de capacidade de investimento por parte do Estado.
Em uma palavra, o que precisa diferenciar a nova política de desenvolvimento é que, no lugar da ultrapassada reserva de mercado, ela deve buscar dosar a velocidade da abertura com a aquisição de uma competitividade sistêmica própria.
Observemos a desenvoltura das sras. Madeleine Albright e Charlene Barshefsky. Cada vez que abrem a boca, defendem ferrenhamente o mercado norte-americano. Como? Exigindo dos demais parceiros o máximo de abertura econômica. Alguém já as ouviu pregarem o levantamento das restrições colocadas ao ingresso dos produtos brasileiros nos EUA?
Diante disso, o ``FMI'' do Brasil requer uma política inteligente para usufruir da abertura da economia, com o objetivo de fortalecer o mercado interno, gerar empregos, criar escala para os produtos fabricados no país, lançar-se à conquista de novos mercados internacionais e exigir dos nossos parceiros contrapartidas como fim de barreiras, quotas etc.
Para tanto, é necessário pesar os prós e os contras da maior ou menor velocidade de abertura em cada setor. Ter como foco central o diagnóstico das consequências para o mercado. Avaliar continuamente o que exigir em troca da abertura econômica. E definir quais blocos econômicos deverão fortalecer nosso mercado, diagnosticar quais concessões poderão enfraquecê-lo.
Em tudo isso, é inegável que o Estado tem um papel estratégico para, junto com a iniciativa privada, planejar o ritmo da abertura, estabelecer prioridades, delinear metas.
A hora é agora, antes que determinadas forças globais consigam se articular melhor e ditar sozinhas as regras do jogo. Tenho certeza de que, assim, nosso precioso mercado sairá fortalecido.
Emerson Kapaz, 40, empresário, é secretário de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo.

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