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Abençoados poetas
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Os cineastas Hector Babenco e Ugo Giorgetti estiveram almoçando na Folha sexta-feira, conforme
o leitor já foi informado pelo Painel.
Vieram discutir a eterna crise do cinema brasileiro e eventuais saídas para permitir a sua sobrevivência sem
esses ciclos intermináveis de imersão
(que parece definitiva) e emersão (que
parece -e é- sempre frágil).
Não sei qual terá sido a impressão
dos demais comensais, mas, para
mim, foi uma lufada de ar fresco. A
Folha, há muitos anos, criou essa prática de almoços para discutir temas da
atualidade. Mas nove de cada dez
convidados são autoridades, empresários, sindicalistas, políticos -enfim,
os chamados "newsmakers" que frequentam os primeiros cadernos.
Nada contra, até porque é das
"news" que eles fazem que vivo.
Mas como é bom, de vez em quando,
ouvir falar em sonhos, conversar com
poetas.
Giorgetti e Babenco têm uma pergunta: é importante que sobreviva,
com a dignidade necessária, o cinema
nacional, como parte da expressão
cultural de um país? Hoje em dia, só
fazer esse tipo de pergunta já parece
uma ousadia. A sabedoria convencional hegemônica responderia que só
sobrevive quem é apto para competir
no tal de mercado. É uma falácia, eu
sei, mas não importa. Impôs-se como
verdade indiscutível.
A sabedoria convencional ignora
que competir pressupõe um ponto de
partida mais ou menos igual. Se você
puser um Michael Jordan para disputar uma partida de basquete com um
garoto subnutrido da favela, será um
massacre. É mais ou menos o que
ocorre com o cinema nacional.
Mas vamos deixar o argumento ético de lado (não adianta mesmo sonhar muito). A resposta à pergunta de
Babenco e Giorgetti é dada, por exemplo, pela cinematografia francesa ou
britânica. Ambos os países não têm a
menor vergonha em proteger seu autores. Por que o Brasil se envergonharia?
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