São Paulo, domingo, 05 de março de 2000


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Abençoados poetas

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Os cineastas Hector Babenco e Ugo Giorgetti estiveram almoçando na Folha sexta-feira, conforme o leitor já foi informado pelo Painel.
Vieram discutir a eterna crise do cinema brasileiro e eventuais saídas para permitir a sua sobrevivência sem esses ciclos intermináveis de imersão (que parece definitiva) e emersão (que parece -e é- sempre frágil).
Não sei qual terá sido a impressão dos demais comensais, mas, para mim, foi uma lufada de ar fresco. A Folha, há muitos anos, criou essa prática de almoços para discutir temas da atualidade. Mas nove de cada dez convidados são autoridades, empresários, sindicalistas, políticos -enfim, os chamados "newsmakers" que frequentam os primeiros cadernos.
Nada contra, até porque é das "news" que eles fazem que vivo.
Mas como é bom, de vez em quando, ouvir falar em sonhos, conversar com poetas.
Giorgetti e Babenco têm uma pergunta: é importante que sobreviva, com a dignidade necessária, o cinema nacional, como parte da expressão cultural de um país? Hoje em dia, só fazer esse tipo de pergunta já parece uma ousadia. A sabedoria convencional hegemônica responderia que só sobrevive quem é apto para competir no tal de mercado. É uma falácia, eu sei, mas não importa. Impôs-se como verdade indiscutível.
A sabedoria convencional ignora que competir pressupõe um ponto de partida mais ou menos igual. Se você puser um Michael Jordan para disputar uma partida de basquete com um garoto subnutrido da favela, será um massacre. É mais ou menos o que ocorre com o cinema nacional.
Mas vamos deixar o argumento ético de lado (não adianta mesmo sonhar muito). A resposta à pergunta de Babenco e Giorgetti é dada, por exemplo, pela cinematografia francesa ou britânica. Ambos os países não têm a menor vergonha em proteger seu autores. Por que o Brasil se envergonharia?


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