São Paulo, domingo, 05 de março de 2000 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES União na política antidrogas
Cerca de US$ 57 bilhões são gastos anualmente no consumo de drogas ilegais dentro dos EUA. Considerando que 80% desse total é convertido em lucro após o pagamento dos custos, US$ 46 bilhões são lavados anualmente no país como resultado. O governo dos EUA atacou esse problema com duas leis: a lei de controle da lavagem de dinheiro e a lei de privacidade bancária. Lavagem de dinheiro é um crime federal sério, com mais de 170 infrações arroladas, que levam a sentenças de até 20 anos de prisão e multas de mais de meio milhão de dólares. A lei de privacidade bancária é administrada pelo Departamento do Tesouro e dá aos investigadores ferramentas para perseguir trilhas de dinheiro de origem suspeita. O nome dessa lei engana um pouco, uma vez que reduziu a privacidade bancária nos EUA. A lei obriga instituições financeiras a relatar todas as movimentações de mais de US$ 10 mil, além de quaisquer transações suspeitas. A não-apresentação de tais relatórios ou a divisão das transações em parcelas menores para evitar sua investigação foram classificadas como ações criminosas. Graças a essa legislação, nos últimos seis anos o Departamento de Justiça levou mais de 6.000 réus a julgamento sob acusação de lavagem de dinheiro. Aproximadamente metade desses casos foi de narcotráfico. Autoridades dos EUA conseguiram contra-atacar lavadores de dinheiro por meio de operações federais de sucesso. A operação Calota Polar, por exemplo, é uma investigação em andamento da Agência de Repressão a Entorpecentes que confiscou mais de US$ 105 milhões e resultou na prisão de 11 pessoas. A força-tarefa Eldorado reúne 12 agências federais, estaduais e municipais no Estado de Nova York. A Eldorado confiscou US$ 150 milhões em dinheiro e prendeu mais de 700 pessoas, diminuindo dramaticamente as transferências de dinheiro para a Colômbia pelo Estado de Nova York. Na arena internacional, os EUA dão apoio à cooperação internacional por meio de sua participação no Grupo de Ação Financeira (Gafi) sobre lavagem de dinheiro. Vinte e seis países e territórios que compõem o Gafi (que participa da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) estabeleceram 40 recomendações que determinaram um padrão internacional para o combate à lavagem de dinheiro. O Brasil participa como membro observador e deverá ser integrado ao grupo em julho. Os EUA estão claramente engajados na redução da lavagem de dinheiro. Em um mundo globalizado onde milhões de transações eletrônicas são efetuadas diariamente, a cooperação internacional é fundamental. Com a adoção, em 1998, de uma lei de ampla aplicação no combate à lavagem de dinheiro, o Brasil assumiu um papel de liderança no combate a esse aspecto do negócio das drogas. Desde sua criação, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), o equivalente brasileiro ao FinCEN (Financial Crimes Enforcement Network) dos EUA, rapidamente tomou medidas para implementar regras e procedimentos para tornar mais difícil a vida de criminosos financeiros. Combinado com os esforços da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), o compromisso brasileiro no combate aos traficantes de droga e aos lavadores de dinheiro é impressionante. O Brasil e os EUA devem continuar a trabalhar contra a lavagem de dinheiro de forma bilateral e multilateral. Apenas pela cooperação na luta contra esse inimigo comum nossas duas nações podem proteger seus cidadãos e garantir o império da lei. Barry R. McCaffrey, general, é diretor do Escritório Nacional de Política de Controle de Drogas dos Estados Unidos e porta-voz do presidente Bill Clinton para assuntos ligados a drogas. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Drauzio Varella: O livro do traficante Índice |
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