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SÉRGIO DÁVILA
A visita do "pato manco"
Em Washington, formadores de
opinião justificam com uma brincadeira a viagem desta semana de
George W. Bush à América Latina.
O presidente norte-americano teria chamado sua secretária de Estado, Condoleezza Rice, apontado
para o mapa-múndi e perguntado:
"Aonde ainda dá para irmos sem levar muita pedrada?".
A brincadeira seria tragicamente
confirmada nos últimos dias pelo
atentado frustrado de que foi vítima o vice-presidente Dick Cheney,
durante visita à base militar no
Afeganistão.
Procurar o próximo destino internacional não é tarefa das mais
fáceis para a equipe de um presidente "pato manco". O termo em
inglês ("lame duck") é usado para
definir o ocupante da Casa Branca
entre o dia da eleição de seu sucessor e o dia da posse desse, intervalo
de geralmente pouco mais de um
mês, em que ele tem o poder de direito, mas não mais o de fato.
No caso de Bush, apesar de contar com quase dois anos de mandato pela frente, índices negativos
recordes de popularidade, duas
guerras fracassadas nas costas
e a falta de capital político para
influir na sucessão de 2008 fazem
dele um presidente "pato manco"
prematuro.
É esse o líder que desembarca na
quinta-feira em São Paulo, para
lançar o memorando bilateral de
biocombustíveis Lula-Bush. Então, parte para implantar a "agenda
positiva" numa América Latina
que ignorou e a partir de um roteiro escolhido a dedo.
Daí a ausência da Argentina -e,
obviamente, do "eixinho do mal",
formado por Venezuela, Bolívia e
Equador. No Brasil, a "diplomacia
do álcool" será a estrela. Mas atenção: mesmo aqui é recomendável
menos ufanismo e mais ceticismo.
Bush oferecerá o que não tem e Lula pedirá o que ele não pode dar.
Na semana passada, Chuck
Grassley, senador pelo mesmo partido do presidente e líder da ruidosa bancada ruralista do Congresso
norte-americano, mandou carta
em que mina o memorando bilateral, por acreditar que roubará empregos e recursos domésticos. Em
artigo nesta Folha, Richard Lugar,
outro senador republicano, também fez reparos ao acordo, por
achar que lhe falta "ambição".
Isso para falar só do "fogo amigo". Ainda na semana passada, a
oposição democrata, que hoje controla o Congresso e sem a qual
pouca coisa do acordo bilateral sairá do papel, saiu a campo. Avisou
que fará o "seu" memorando de
biocombustível.
sergiodavila@uol.com.br
SÉRGIO DÁVILA é correspondente da Folha em Washington.
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