São Paulo, segunda-feira, 05 de março de 2007

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SÉRGIO DÁVILA

A visita do "pato manco"

Em Washington, formadores de opinião justificam com uma brincadeira a viagem desta semana de George W. Bush à América Latina. O presidente norte-americano teria chamado sua secretária de Estado, Condoleezza Rice, apontado para o mapa-múndi e perguntado: "Aonde ainda dá para irmos sem levar muita pedrada?".
A brincadeira seria tragicamente confirmada nos últimos dias pelo atentado frustrado de que foi vítima o vice-presidente Dick Cheney, durante visita à base militar no Afeganistão.
Procurar o próximo destino internacional não é tarefa das mais fáceis para a equipe de um presidente "pato manco". O termo em inglês ("lame duck") é usado para definir o ocupante da Casa Branca entre o dia da eleição de seu sucessor e o dia da posse desse, intervalo de geralmente pouco mais de um mês, em que ele tem o poder de direito, mas não mais o de fato.
No caso de Bush, apesar de contar com quase dois anos de mandato pela frente, índices negativos recordes de popularidade, duas guerras fracassadas nas costas e a falta de capital político para influir na sucessão de 2008 fazem dele um presidente "pato manco" prematuro.
É esse o líder que desembarca na quinta-feira em São Paulo, para lançar o memorando bilateral de biocombustíveis Lula-Bush. Então, parte para implantar a "agenda positiva" numa América Latina que ignorou e a partir de um roteiro escolhido a dedo.
Daí a ausência da Argentina -e, obviamente, do "eixinho do mal", formado por Venezuela, Bolívia e Equador. No Brasil, a "diplomacia do álcool" será a estrela. Mas atenção: mesmo aqui é recomendável menos ufanismo e mais ceticismo. Bush oferecerá o que não tem e Lula pedirá o que ele não pode dar.
Na semana passada, Chuck Grassley, senador pelo mesmo partido do presidente e líder da ruidosa bancada ruralista do Congresso norte-americano, mandou carta em que mina o memorando bilateral, por acreditar que roubará empregos e recursos domésticos. Em artigo nesta Folha, Richard Lugar, outro senador republicano, também fez reparos ao acordo, por achar que lhe falta "ambição".
Isso para falar só do "fogo amigo". Ainda na semana passada, a oposição democrata, que hoje controla o Congresso e sem a qual pouca coisa do acordo bilateral sairá do papel, saiu a campo. Avisou que fará o "seu" memorando de biocombustível.
sergiodavila@uol.com.br


SÉRGIO DÁVILA é correspondente da Folha em Washington.


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