|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Um silêncio nada inocente
MADRI - Dizem que o presidente
equatoriano, Rafael Correa, exige
desculpas muito claras da Colômbia para voltar atrás em sua decisão
de romper relações com o vizinho.
É justo.
Mas também é justo que Correa
peça desculpas aos colombianos
-mais que ao governo da Colômbia- por ter permitido o "passeio"
de reféns das Farc pelo Equador,
conforme depoimento de um dos
seqüestrados recentemente libertado. Ou, posto de outra forma: o
Exército colombiano invadir território do Equador é condenável, mas
as Farc adotarem o mesmo comportamento é aceitável?
Nesse conflito sul-americano que
tem facetas bem macondianas, até
pelos personagens envolvidos, um
fato precisa ficar bem nítido e claro:
luta armada contra um governo legítimo é intolerável. Apoiá-la é
apoiar igualmente todas as violações aos direitos humanos praticados pelos delinqüentes das Farc,
violações que ganharam a atenção
da mídia a partir da libertação recente de alguns reféns, mas que são
cometidas -eventualmente até
piores- há muitíssimos anos contra muitíssimos reféns.
O que chama especialmente a
atenção nesses episódios é o silêncio, denso, das mulheres que se dizem de esquerda. Tiveram papel relevante, no Brasil, na luta pelo respeito aos direitos humanos. Como é
que silenciam agora, quando há
tantas barbaridades praticadas por
um grupo que se diz de esquerda,
mas é apenas criminoso?
Tratamento desumano a prisioneiros, quando praticado por ditaduras de direita, é inaceitável, óbvio. Mas vale quando praticados por
"companheiros de rota"?
Ou essas mulheres, como o presidente Hugo Chávez, respeitam o
"projeto político" das Farc, o que
inclui respeitar torturas, seqüestros e assassinatos?
Abu Ghraib não pode, mas "cárcere do povo" na selva, com idênticas torturas, pode?
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Prioridade para os reféns
Próximo Texto: Brasília - Melchiades Filho: Nova fronteira Índice
|