São Paulo, domingo, 05 de maio de 2002

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

A cerveja de Colombo a Churchill

O IBGE concluiu uma pesquisa comparando os bens produzidos em 1999 e em 1979. Isso permite registrar as mudanças em cada item ao longo de 20 anos.
Você sabia que a cerveja saiu do 41º lugar em consumo e passou para 4º lugar? Hoje em dia, a cerveja só perde para os automóveis, que têm um valor unitário muito alto, e para a gasolina e o óleo diesel, que têm um volume de consumo colossal.
É irônico que isso ocorra em um país pobre e de grande desigualdade social. Mas essa é a realidade. Como a exportação de cerveja é irrisória, nós, brasileiros, nos incumbimos de beber os 8 bilhões de litros aqui produzidos. Quando se consideram os brasileiros maiores de 15 anos, isso dá uns 80 litros por pessoa, em média.
Como este é o país das desigualdades, onde há várias pessoas que não bebem nada, há muita gente bebendo 160 litros ou 240 litros por ano. É mesmo uma paixão nacional.
No Brasil, o verão, o Carnaval e o futebol impulsionam as vendas de cerveja. Mas ela é popular em todo o mundo, mesmo nos países frios. A cerveja é a segunda bebida mais antiga da humanidade (depois do vinho). Os historiadores registram a sua existência na Mesopotâmia há 10 mil anos. E dizem que os indígenas receberam Cristóvão Colombo com uma cuia de cerveja feita com milho. Relatam também que George Washington era tão fanático que carregava consigo um livrinho de receitas onde anotava variações de cervejas.
Quando li a notícia do IBGE, fiquei pensando: o que seria do Brasil se um presidente decidisse baixar uma medida provisória proibindo a venda de cerveja? Seria uma loucura. E nem há razão para isso. Mas foi o que ocorreu nos Estados Unidos em 1920, tendo durado até 1933.
Franklin D. Roosevelt, que de bobo não tinha nada, colocou em sua plataforma o fim da Lei Seca. Ganhou estourado. Seu primeiro ato no governo foi a revogação da "impensada" lei.
Hoje, os alemães são os campeões da cerveja, sendo seguidos pelos tchecos e pelos ingleses. Mas vale a pena anotar que os brasileiros, que bebem 8 bilhões de litros de cerveja, apesar de mal colocados no "ranking", tomam cerca de 21 bilhões de litros de leite por ano. Isso dá cerca de 123 litros per capita, pois aqui há que se incluir os 170 milhões de brasileiros. Esse consumo é apenas 50% maior do de cerveja.
Em todo caso, é bom saber que o Brasil também está aumentando a produção de leite. Em 1999, foram 19,8 bilhões de litros; em 2000, 20,8 bilhões; em 2001, 21 bilhões; e, para 2002, estima-se 21,6 bilhões. Ademais, os maiores consumidores de leite o fazem por obrigação, enquanto os de cerveja o fazem por satisfação.
O crescimento observado pelo IBGE é animador, pois, tomada com moderação, a cerveja é tão benéfica quanto o vinho. Como bem dizia Winston Churchill: "Ao longo de minha vida, obtive muito mais da cerveja do que a cerveja obteve de mim".


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.



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