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HORA DE DESPERTAR
Está em ruínas o projeto regional, centrado na Comunidade
Sul-Americana de Nações (Casa),
que foi a vedete da diplomacia de
Luiz Inácio Lula da Silva para o subcontinente. O episódio Evo Morales,
que inevitavelmente deixará seqüelas
no relacionamento de Brasil e Bolívia, é apenas o ruído mais recente a
contribuir para a cacofonia política
vigente neste canto do planeta.
Lula, passada a fase ingênua da "liderança natural" brasileira na América do Sul, agora mais parece um apagado coadjuvante de Hugo Chávez.
Mas a liderança do venezuelano é divisora; para cada amigo que faz, brota um inimigo. Acaba de retirar seu
embaixador do Peru. Desta feita o
mentor do "bolivarianismo" entrou
em atrito ruidoso com o presidente
peruano, Alejandro Toledo, e o candidato a sucedê-lo Alan García.
Chávez divide a Comunidade Andina, promove o Grande Gasoduto do
Sul e o papel do venezuelano como
incentivador da nacionalização assinada por Morales, contra o interesse
brasileiro, está por ser contado.
Não cabe ao chefe de Estado brasileiro emprestar credibilidade a tais
encenações diplomáticas. O país
mais populoso e industrializado da
América do Sul não pode se dar ao
luxo de -acalantado pelo "flash-back" terceiro-mundista que assombra o Itamaraty- perder de vista as
suas prioridades regionais.
O Mercosul está em frangalhos.
Não bastasse o status especial dos argentinos para romper princípios do
bloco, Washington, pragmática,
agora oferece vantagens comerciais
que estão arrancando o Uruguai e o
Paraguai do projeto, enquanto Lula
sonha com o encontro místico de
Bolívar e JK. O Brasil é incapaz de encaminhar a resolução de um problema de fronteira entre Argentina e
Uruguai sobre a instalação de fábricas de celulose. O Itamaraty não responde ao interesse crescente de empresários brasileiros de abrir mercado em nações desenvolvidas.
Passa da hora de Brasília despertar.
Fará bem o Itamaraty se retomar a
sua melhor tradição de pragmatismo, incentivando a sobreposição entre os interesses comerciais das empresas do país e as posições da política externa. Cumpre voltar ao básico
no Mercosul: reconstruir as pontes
dinamitadas do livre comércio no
bloco e deixar de lado o projeto de
união aduaneira (em que o grupo se
comporta como uma só nação a fim
de negociar com terceiros). É tempo
também de ultrapassar os preconceitos ideológicos contra a Alca e o
acordo com a União Européia e acelerar esses dois processos.
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