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RUY CASTRO
As tábuas da lei
RIO DE JANEIRO - Os 50 anos da
bossa nova tomaram o lugar dos
200 anos da chegada da corte em
matéria de presença na mídia, de
eventos comemorativos e de justo
oba-oba. Mas há um departamento
em que a saga do príncipe dom João
está deixando a de João Gilberto,
longe, para trás: na publicação de
documentos originais.
De Oliveira Lima ao padre Perereca, todos os livros clássicos sobre
os primeiros anos da corte no Rio
terão saído até o fim do ano; muitos
outros, de alto nível, produzidos
agora, idem; e a corte tem aparecido
também na ficção, em livros de divulgação jornalística e até em história em quadrinhos.
A bossa nova não está tendo a
mesma sorte. Suas verdadeiras tábuas da lei -os três primeiros LPs
de João Gilberto, gravados na
Odeon entre 1959 e 1961- continuam fora do ar, pelo interminável
litígio judicial entre o cantor e a gravadora. Da mesma forma, o disco
"Canção do Amor Demais", de 1958,
com Elizeth Cardoso e o violão de
João Gilberto, está emperrado por
exigências dos herdeiros de Elizeth
ao selo Festa, dono dos fonogramas.
Os shows históricos de bossa nova na Faculdade de Arquitetura, na
rádio Globo e na Escola Naval, em
1959 e 1960, que foram todos gravados, continuam privilégio dos poucos possuidores de suas cópias domésticas. Da mesma forma, as fitas
do show "O Encontro", com João
Gilberto, Tom Jobim, Vinicius de
Moraes e Os Cariocas, e do concerto
completo no Carnegie Hall, ambos
de 1962, seguem indisponíveis para
o mercado.
Assim, não espanta que as gravações do conjunto vocal Garotos da
Lua, com João Gilberto como crooner, de 1951, e outros discos reveladores da pré-bossa nova, produzidos desde 1945, continuem inéditos
em CD. Exceto, claro, no Japão. E
na internet, onde tudo isso circula e
pode ser capturado de graça.
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