São Paulo, segunda-feira, 05 de maio de 2008

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Não dá para esquecer

BRUNO COVAS


Na concepção de democracia do PSDB, não há espaço para composições de governo com sacrifício de candidaturas legítimas


O PSDB nasceu com uma garantia: o testemunho da vida pública de homens e mulheres comprometidos com um ideário, muito mais que com uma legenda eleitoral.
Tal ideário contém objetivos claros: ser um partido "profundamente democrático em sua vida inteira, inflexível no propósito de representar, sem deformar nem mistificar, aqueles que lhe derem o voto, independentemente dos favores dos governos para poder ser coerente e competente ao governar".
Não há como dissociar esses preceitos da discussão pública que ora se trava sobre a conveniência de o PSDB participar, com candidato próprio, das próximas eleições municipais em
São Paulo. Muito mais que os interesses de alianças políticas ou de estratégias eleitorais, o que está em jogo neste momento são exatamente os princípios que fundamentaram a criação do partido, a começar pela estrita fidelidade às suas diretrizes.
A prática da democracia interna no âmbito do PSDB pressupõe, acima de qualquer divergência, o respeito às decisões inspiradas na vontade das bases partidárias.
O recente esforço da Comissão Executiva Municipal do PSDB em ouvir os membros dos 52 diretórios zonais da capital nas últimas semanas demonstrou que a ampla maioria do partido é inquestionavelmente favorável à tese da candidatura própria.
Disso resulta, mais que tudo, a certeza de que a vontade da militância tucana reproduz fielmente a expectativa de uma parcela significativa da população paulistana -expressa em diversas pesquisas de opinião pública- de votar num candidato verdadeiramente social-democrata.
Não é de desprezar a firmeza com que essa militância tem manifestado a convicção, de resto acertada, de que não se deve negar aos paulistanos o direito de eles mesmos escolherem, ainda que entre candidatos filiados a partidos que hoje compartilham a gestão municipal, aquele que melhor vier a se apresentar para administrar a cidade nos próximos quatro anos.
Impedir que o PSDB venha a ter um representante próprio nas próximas eleições -porque tem participação no governo municipal, em conjunto com o DEM e outras agremiações- seria o mesmo que promover a defesa do atrelamento partidário à máquina governamental, à custa da liberdade de escolha do eleitor e do engessamento da democracia.
Ademais, se a justificativa para o impedimento -a participação no governo- valesse para o PSDB, os eventuais candidatos do PPS e do PV, partidos que também participam da atual administração, acabariam, por absurda coerência, vendo-se igualmente impedidos de se apresentar no pleito vindouro.
Na concepção de democracia do PSDB, não há espaço para composições de governo com sacrifício de candidaturas legítimas. Estas devem sempre ser defendidas e estimuladas, sem prejuízo da renovação daquelas.
Não dá para esquecer: o PSDB nasceu para ser um partido "profundamente democrático em sua vida inteira".
O PSDB alcançou proeminência nacional disputando eleições, mesmo quando ainda eram incipientes as suas chances eleitorais. Para o PSDB, isso é mais que uma mera formalidade. É um valor fundamental, pois é no voto da urna que se legitima o trabalho no governo.
A contribuição do PSDB a qualquer administração, de titularidade sua ou alheia, não prescinde da participação direta de seus candidatos em eleições livres e democráticas. Pelo contrário, para o PSDB, é elementar o princípio de que disputar eleições não é um direito, mas uma responsabilidade partidária. Não dá para esquecer: o PSDB nasceu para ser um partido "inflexível no propósito de representar, sem deformar nem mistificar, aqueles que lhe derem o voto".
Um partido sem candidato é um partido sem voto. A representatividade hoje reconhecida do PSDB é fruto do compromisso de não se omitir, de contribuir para o fortalecimento dos vínculos de responsabilidade entre representantes e representados. Não dá para esquecer que é isso que, "independentemente dos favores dos governos", nos leva a disputar eleições, "para poder ser coerente e competente ao governar".
Na firmeza e na decência desses objetivos, o PSDB estará unido nas próximas eleições. Unido por uma candidatura própria, que se compromete a representar o seu ideário, sem o propósito de desconstruir o passado, mas com o objetivo de abrir novas perspectivas para o futuro e de não permitir que se esqueça que o PSDB, afinal, nasceu "longe das benesses oficiais, mas perto do pulsar das ruas, justamente para fazer germinar novamente a esperança".


BRUNO COVAS , 28, advogado e economista, é deputado estadual em São Paulo pelo PSDB.

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