São Paulo, quinta-feira, 05 de maio de 2011

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O limiar da miséria

Valor escolhido por Dilma para nortear programa de combate à pobreza extrema equivale à metade do que cogitava quando candidata

O governo de Dilma Rousseff definiu como público-alvo do seu plano de combate à miséria os brasileiros com renda mensal de até R$ 70 por pessoa da família. Equivale a receber por mês pouco mais de 1/8 do salário mínimo, hoje fixado em R$ 545.
O plano de Dilma, Brasil sem Miséria, adotou um critério mais restritivo de pobreza extrema do que a própria presidente havia sugerido durante a campanha eleitoral. Quando candidata, ela disse: "Miserável é quem tem renda de até um quarto do salário mínimo" (hoje, R$ 136,25).
O limite cogitado na propaganda política corresponderia atualmente a cerca de 19,6 milhões de beneficiados, mas não vingou. Ao fixá-lo em metade desse valor, já no poder, a presidente sinaliza que o novo programa federal atenderá 16,2 milhões de brasileiros (ou 8,5% da população).
É, sem dúvida, um valor muito baixo, que facilita em boa medida a consecução da meta. Mas não está em desacordo com critérios internacionais de definição da miséria. O Banco Mundial, por exemplo, trabalha com valor similar, equivalente a R$ 62.
Quase 60% dessa população está concentrada no Nordeste (9,6 milhões) e 53% vivem em áreas urbanas. Conforme dados do IBGE, são pessoas com menos acesso a saneamento básico, energia elétrica e abastecimento de água. Nesse universo de pobreza extrema, são analfabetos mais de 30% dos que vivem em áreas rurais e 22% dos que moram nas cidades.
Tantas carências acumuladas na base miserável da sociedade evidenciam que a ação do Estado não pode se limitar à transferência de renda. Uma coisa é certa: parte dos novos beneficiados pelo Brasil sem Miséria já estará incluída no Bolsa Família, programa que paga entre R$ 32 e R$ 242 e alcança mais de 12 milhões de famílias.
O governo deve divulgar ainda neste mês o pacote de medidas do novo plano, do qual, em termos concretos, quase nada se sabe. Espera-se que não se resuma a um gesto meramente assistencialista, mas, ao contrário, que represente um avanço mais estrutural no combate à pobreza extrema.
Seria péssimo se o novo programa repetisse as limitações de iniciativas anteriores para enfrentar o crônico problema social. Só a transferência de renda não trará -por passe de mágica- a saúde, a educação e o saneamento básico de que os miseráveis precisam.


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