São Paulo, sábado, 05 de junho de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

Ortodoxia em alta

BRASÍLIA - O governo Lula tem emitido sinais exteriores de otimismo. É cedo para saber se a alegria será sustentável no longo prazo.
No momento, há razões concretas para celebrar. O PIB cresceu, o saldo da balança comercial é recorde, o salário mínimo de R$ 260 foi aprovado com larga folga na Câmara.
A Operação Vampiro ainda não grudou no governo como algo ruim, como deseja a oposição. O tesoureiro do PT, Delúbio Soares, nega irregularidades um dia sim e outro também. A direção petista demonstra confiança em Delúbio. Ou finge muito bem.
O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, vai vencendo a batalha por mais poder interno no Planalto contra o chefe da Casa Civil, José Dirceu -como deseja Lula.
Filiado ao PC do B, partido que já teve a Albânia como modelo, Aldo Rebelo tem feito o que o presidente recomendou: negociado incansavelmente com todas as siglas representadas no Congresso. Se essa tática terá êxito duradouro, é outra história. O grande teste será aprovar o salário mínimo no Senado.
Tudo isso serviu para desoprimir o ambiente governista. A conseqüência mais relevante, no entanto, é o acúmulo de forças do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. A sua crença na inércia do modelo ortodoxo começa a dar resultados objetivos.
O enfraquecimento de Dirceu anabolizou Palocci ainda mais. Já foi para o espaço sideral a possibilidade de mudança da meta inflacionária do ano que vem de 4,5% para 5,5%, patrocinada com força por Dirceu, Aloizio Mercadante e Ciro Gomes.
O momento é de consolidação da vitória da ortodoxia dentro do petismo -sobretudo no apego ao gradualismo dos regimes ortodoxos.
Basicamente, firma-se no establishment do PT a noção de que, no Brasil, às vezes é bom não ter idéias. Tudo se resolve sozinho. A ver.


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